Querem intrigar Marta com Haddad. Conseguirão?

A intriga do momento no processo pré-eleitoral paulistano é a tão falada ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) no encontro petista que lançou a campanha Fernando Haddad (PS-SP) como pré-candidato […]

A intriga do momento no processo pré-eleitoral paulistano é a tão falada ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) no encontro petista que lançou a campanha Fernando Haddad (PS-SP) como pré-candidato a prefeito. Mas há uma leitura simplista feita na velha imprensa de toda essa história, que é derrubada pela boa análise política do processo, desde escolha do candidato até o papel da senadora na campanha municipal.

São Paulo, por haver uma hegemonia do PSDB nos últimos anos, no governo do estado e no da capital, quem está na oposição, como é o caso do PT, precisa de estratégias políticas diferentes das tradicionais. O quadro se agrava quando a metrópole é, talvez, a que sofre maior influência da imprensa nas eleições. A cidade é sede dos jornais Folha de São Paulo e Estadão, além da revista Veja, todos com simpatia pelo tucanato. O mesmo ocorre com a sucursal da TV Globo. É também a cidade sede da Febraban (Federação dos Bancos) e da Fiesp (Federação das Indústrias), e onde a Associação Comercial, controlada há anos por pessoas ligadas ao DEM/PSD, tem uma atuação política marcante.

É a eleição onde o poder econômico tem maior peso. E é onde tucanos, junto ao DEM/PSD, controlam a máquina da prefeitura desde 2005, e o governo do estado desde 1995. Neste quadro, tem restado ao PT a posição de segunda força nas últimas eleições. Diante disso, é sensato o PT ter buscado para candidato quem tenha o perfil mais adequado para enfrentar esse quadro complexo.

Do ponto de vista interno ao petismo, não haveria divergências programáticas entre os postulantes a candidatos. Qualquer nome que fosse escolhido teria as mesmas bandeiras para carregar e os mesmos compromissos a apresentar à população. Para o público interno petista, não faria diferença se a candidata fosse Marta ou se é Haddad, salvo preferências de correntes políticas ou pessoais. A questão é o eleitorado externo, fora do PT.

Desde 2004, os conservadores paulistanos, a velha imprensa dominante e a máquina de campanha tucana desenvolveram uma tecnologia de desconstruir a imagem de Marta para boa parte do eleitorado, o que a levou a terminar eleições em segundo lugar em três eleições, apesar de sempre ter votações expressivas: em 2004 e 2008 para prefeita, e mesmo em 2010 para o Senado (a bem azeitada máquina partidária tucana conseguiu a façanha de levar Aloysio Nunes ao primeiro lugar na capital).

Com esse quadro, um nome que represente novidade para o eleitorado, como o de Haddad, pode ser o fator surpresa que desarranja toda a estratégia de campanha tucana. Contra Haddad, os tucanos ainda não encontraram um discurso que funcione.

Junte-se a isso a escolha dos tucanos pelo candidato José Serra, o mais desgastado dos candidatos, com rejeição alta, e uma carreira política cercada de episódios desabonadores abafados por uma imprensa dócil e que, graças à internet, estão vindo ao conhecimento do grande público.

O contraste entre a novidade Haddad e a repetição do candidato Serra, pode ser o que faltava para despertar no paulistano o entusiasmo com a experiência de alternar o poder. São Paulo continua com os mesmos problemas das ultimas eleições, sem que as administrações tucanas e do DEM tenham dado respostas satisfatórias, apesar das promessas se repetirem em todas as eleições.

Outro contraste evidente é o entusiasmo e idealismo do candidato Haddad com o desafio de governar a maior metrópole do Basil, diferente de José Serra, que há pouco tempo dizia que já fora prefeito e governador, por isso não tinha motivação para ser novamente. Dizia que seu interesse era nacional, em persistir na tentativa de chegar à presidência da República em 2014. Voltou atrás por conjuntura, e não por idealismo, nem desejo de ser prefeito, pelo contrário, parece mais tratar a prefeitura como um sacrifício a ser enfrentado para buscar mais adiante a almejada presidência.

Por ter esse perfil é que se compreende a escolha política do PT pelo nome de Haddad, ao contrário do que dizem sobre mera escolha pessoal do ex-presidente Lula. É difícil acreditar em “dedaço”, sem que tenha havido avaliação política interna entre as lideranças petistas,  trançando cenários sobre as chances de êxito de cada postulante a candidato, e a decisão tenha sido sobre quem avaliaram ter melhores chances.

Sobre a senadora Marta Suplicy, como uma das maiores lideranças paulistas do PT, é compreensível que tenha algumas arestas a serem aparadas dentro de seu partido, que busque mais espaço político por ter renunciado à disputa; mas não tem a menor lógica imaginar que ela se omitirá da campanha municipal nos momentos decisivos;

Isso porque existe uma bancada de vereadores ligada a ela, cujo apoio da senadora será de grande valia para se eleger, e ela não negará esse apoio, até para manter sua liderança política e suas bases para as próximas eleições;

E se Haddad vencer na capital, Marta também ganha, pois as resistências de parte dos paulistanos ao petismo terá sido vencida, o que abre horizontes mais amplos para todas as lideranças do PT paulista nas próximas eleições.

Por isso ou é intriga ou é simplismo as análises na imprensa sobre rachas ou dissidências no PT paulistano.