Novo álbum resgata o melhor da banda Fellini

“É papo furado esse negócio de saudades dos anos 80, porque os anos 80 foram um buraco sem fim. Como em todo tempo de repressão, a felicidade era clandestina. Nossa […]

“É papo furado esse negócio de saudades dos anos 80, porque os anos 80 foram um buraco sem fim. Como em todo tempo de repressão, a felicidade era clandestina. Nossa felicidade nos anos 80 passava longe da televisão, longe da MPB, encharcada de cafonice e dor-de-cotovelo, e também longe da política”, descreve o jornalista Cadão Volpato, no encarte do recém lançado CD “Você Nem Imagina”, espécie de coletânea da sua banda Fellini, uma das mais representativas do rock paulista daquela época, em que era muito comum os jornalistas de músicos terem suas bandas de rock e elogiarem nas revistas os seus pares. Porém, há que se dizer que todos os elogios feitos nesse caso eram mais do que merecidos.

Longe do mainstream, o vocalista Cadão Volpato, o guitarrista e backing vocal Jair Marcos, o baixista Ricardo Salvagni, o guitarrista e backing vocal Thomas Pappon e o baterista Clayton Martin lançaram seis álbuns e até hoje são cultuados como a grande banda do underground paulistano. “Ninguém é perfeito / Eu quis ser / Socialista”, brincam em “Funziona Senza Vapore”. Mas o sarcasmo aparece mesmo em “Chico Buarque Song”, com letra em inglês. Não falta também o maior sucesso da banda, “Rock Europeu”: “Um punk varrendo / Palácios e cores que falham / Você nem imagina o que você não conheceu / Agora é tarde, é tarde / Meu saco já encheu”.

Gravado numa sexta-feira de agosto de 2009, “uma semana depois de nossa turnê mundial por São Paulo e Curitiba”, como brinca Cadão, “Você Nem Imagina” reúne gravações que reforçam a atualidade da letra e mostra um amadurecimento dos músicos. “LSD”, por exemplo, soa muito mais empolgante hoje do que na época, com um interessante jogo de vozes. Também vale a pena prestar atenção no peculiar samba-rock “Ambos Mundos”, na divertida “Teu Inglês” e na contagiante faixa-título: “. Como explica o cantor e compositor de todas as canções, as principais referências são tropicalismo, Mutantes e Stranglers.

São marcas de uma época que tende a ser eternamente cultuada pelos jovens como aquela em que se fez uma cultura forte e contundente para eles. “Eu não tenho mais fotos dessa época / Mas vira-e-mexe a gente dava uma festa”, como descreve em “Massacres da Coletivização”. “Aquele era um tempo de canções ásperas, quase punks, quase primárias. E o Fellini já nasceu não se parecendo com nada, mesmo quando tentava emular o rock inglês que era nossa grande influência. Hoje, passados tantos anos, vejo muito sarcasmo numa canção como ‘Rock Europeu’, uma espécie de hit que passamos muito tempo sem querer tocar”, completa no encarte.