crime ambiental

Garimpo ilegal contamina rios com mercúrio e causa doenças graves em comunidades amazônicas

Segundo a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, o número desses garimpos passa de 4 mil, prejudicando indígenas e ribeirinhos; mercúrio causa danos cerebrais, entre outras complicações, por menor que seja a sua concentração no organismo

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O garimpo ilegal despeja mais de 150 toneladas de mercúrio por ano na região amazônica

São Paulo – A Floresta Amazônica concentra 4.114 garimpos ilegais, que contaminam rios com o mercúrio, metal pesado causador que doenças graves nos povos indígenas e populações ribeirinhas. A substância é usada para facilitar a separação do ouro no processo e se concentra nos peixes e na água. Segundo uma nota técnica da WWF-Brasil a pedido da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a atividade ilegal despeja mais de 150 toneladas de mercúrio por ano na região. Para chegar a esses dados, os pesquisadores consultaram 100 estudos a respeito.

Como 68% da floresta está em território brasileiro, os ribeirinhos brasileiros são os que mais sofrem. Segundo os estudos, a concentração média de mercúrio em humanos nessas comunidades é de 15,4 ppm. A quantidade máxima estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 10 partes por milhão (ppm). Ou seja, acima desse limite, os efeitos para a saúde são graves e irreversíveis.

Em seguida vem a Colômbia, com concentração média de 9,3 ppm, e o Peru, com 8,3 ppm. Apesar de estarem abaixo do máximo, os índices nesses países estão “perigosamente próximos”.

Segundo a OMS, porém, não existe um limite mínimo seguro de concentração. Por mínima que seja, é prejudicial à saúde. Ultrapassar o limite de 10 partes por milhão, porém, pode trazer problemas sérios ao sistema nervoso, ao trato digestivo e ao sistema imunológico. O excesso de mercúrio também provoca doença nos rins e nos pulmões e, em mulheres grávidas, pode gerar bebês com paralisia motora, além de problemas de visão e audição.

Peixes de todos os países amazônicos têm mais mercúrio do que deveria

A nota técnica também reune dados de estudos sobre os peixes de rios amazônicos, fonte de alimentação dessas comunidades. A concentração máxima de mercúrio em peixes estabelecida pela OMS é de 0,5 ppm. Entretanto, todos os países amazônicos ultrapassam esse limite, com o Brasil na liderança.

A gravidade da situação requer o combate, que estará no centro da declaração dos chefes de Estado de países amazônicos na Cúpula da Amazônia, que começa nesta terça-feira (8). Além disso, a reunião de alto nível vai reafirmar o compromisso dos países-membro da OTCA com a Convenção de Minamata, acordo assinado por 128 países em 2013 para combater o uso de mercúrio.

O diretor-executivo da OTCA, embaixador Calos Lazary, disse à GloboNews que o encontro em Belém eleva a outro patamar a cooperação entre os países amazônicos para enfrentar os problemas comuns às oito nações. “Não adianta, por exemplo, o Brasil trabalhar com a qualidade da água se os rios acima já vêm contaminados. A questão do mercúrio é fundamental que todos os países trabalhem juntos”, disse Lazary.

Para a organização WWF-Brasil, o Brasil depende de outros países na luta contra o garimpo ilegal. “Se o ouro continuar saindo pela Venezuela ou saindo pelo Peru, como acontece hoje, e é muito fácil isso acontecer, não vai resolver o problema”, disse Raul Valle, especialista em políticas públicas da entidade. Ele explica ainda que boa parte do mercúrio usado no Brasil vem da Bolívia ou da Venezuela. “Não adianta nada o Brasil conseguir fazer uma restrição para a comercialização interna de mercúrio se a Bolívia e a Venezuela não resolverem isso”, disse.

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Redação: Cida de Oliveira, com g1