Veneno no copo

Deputado apresenta projeto para que contas de água tragam informação sobre agrotóxicos

Projeto de Lúdio Cabral (PT-MT) propõe que consumidor saiba dos agrotóxicos encontrados nas torneiras, frutos do agronegócio

Reprodução/Youtube
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"Todo esse volume de veneno contamina o solo e a água de rios e de lençóis freáticos"

São Paulo – O deputado estadual por Mato Grosso Lúdio Cabral (PT) quer obrigar empresas fornecedoras de água a informar na conta a presença de agrotóxicos encontradas no sistema de abastecimento. Cabral apresentou o projeto na semana passada. A matéria busca conscientizar a população sobre a quantidade de veneno utilizada no agronegócio. Mato Grosso é o estado que mais utiliza esses produtos, com 200 milhões de litros despejados por ano no solo.

Enquanto isso, no Congresso Nacional, parlamentares da bancada ruralista aprovaram durante o governo Bolsonaro 1.560 variedades de venenos em quatro anos. São, ao todo, 4.644 produtos utilizados no país. Muitos proibidos na maior parte do mundo, especialmente na Europa e Estados Unidos. Contudo, são justamente empresas europeias e norte-americanas que produzem esses compostos e vendem para países em desenvolvimento.

Ruralistas tentam emplacar a nomenclatura de “defensor agrícola”. Entretanto, sabe-se que são venenos, agrotóxicos que provocam, entre outras, mutações genéticas, cânceres e cegueira. “Todo esse volume de veneno contamina o solo e a água de rios e de lençóis freáticos. Há pesquisas que mostram a contaminação dos rios de Mato Grosso em todas as regiões do estado”, argumenta Cabral.

Além da “boiada” dos químicos autorizados na gestão Bolsonaro, alguns dos produtos encontrados na água mato-grossense sequer são permitidos. “Muitos deles são proibidos no Brasil, outros até são autorizados, mas foram encontrados em concentrações muito acima do permitido por lei. Algumas dessas substâncias podem causar intoxicações agudas, outras são carcinogênicas, como o glifosato, outros podem causar doenças crônicas e malformações fetais”, argumenta o petista.

Informação e agrotóxicos

De acordo com Cabral, não há como separar a água que as pessoas consomem de muitos venenos utilizados no agronegócio. Então, cabe ao Estado garantir a publicidade dos fatos e assegurar que o consumidor saiba o que tem em cada copo de água. “Infelizmente não existe tecnologia para retirar o veneno da água, por isso as empresas de abastecimento não conseguem descontaminar a água que chega com agrotóxicos na casa das pessoas. Ao longo do primeiro mandato, apresentamos diversos projetos para reduzir o consumo excessivo de agrotóxicos em Mato Grosso. Nenhum foi aprovado. Nesta legislatura, estamos reapresentando os projetos e mais alguns outros, e vamos buscar apoio da população para pressionar pela aprovação deles.”

O fornecimento de água no Mato Grosso está sob concessão da empresa Agea MT até 2042. De acordo com a empresa, eles seguem os padrões nacionais e internacionais para garantir a qualidade da água. “Nós fazemos o controle de todos os parâmetros orgânicos inorgânicos, agrotóxicos, biológicos, físicos e químicos na água. Analisamos e comparamos essas questões. Também referenciamos de acordo com as normas”, afirma a concessionária, em nota.

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