Nem tão nacional

Petrobras encomenda plataformas no exterior e tira 1,5 milhão de empregos no Brasil

Das 14 plataformas previstas para operação nas bacias de Campos e Santos, 10 já foram contratadas, mas todas fora do país

FUP/Reprodução
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"Hoje, infelizmente, nós temos a transferência desses serviços que eram feitos por empresas brasileiras para empresas internacionais", critica o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar

São Paulo – Decisão da Petrobras de realizar encomendas de plataforma no exterior tira do Brasil a possibilidade de criar 1,47 milhão de empregos no Brasil. A contratação é referente a novas plataformas nas bacias de Campos e Santos, que correspondem a mais de 80% da produção de petróleo e gás do país. Ao todo, 10 plataformas já foram encomendadas, sete delas na China, duas em Cingapura e uma na Coreia do Sul. Ou seja, o potencial do negócio criará empregos apenas fora do país. 

“Hoje, infelizmente, nós temos a transferência desses serviços que eram feitos por empresas brasileiras para empresas internacionais. Não somente esses específicos que estamos aqui falando, da construção de plataformas, sondas e navios que a Petrobras tem como característica de encomendar. Mas grandes obras feitas hoje no Brasil, na área de engenharia, são de empresas internacionais, algo inadmissível”, afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, em entrevista à repórter Dayane Ponte do Seu Jornal, da TVT

Segundo levantamento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), em 2014, os estaleiros brasileiros possuíam cerca de 80 mil profissionais empregados. Hoje, são menos menos de 30 mil trabalhadores. 

Influência do governo Bolsonaro

De acordo com os petroleiros, o fim da política de conteúdo nacional, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), contribuiu ainda mais para a crise no setor naval. “Essa quebradeira começou com a Lava Jato, mas hoje ela se acentuou muito mais”, afirma o coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), Tezeu Bezerra. 

“Porque, a exemplo do que está acontecendo, se eles não colocam o conteúdo local já na obrigatoriedade da licitação, as empresas nacionais, mesmo as que não foram as bloqueadas pela operação Lava Jato no passado e que ainda existem mas estão com quase nenhuma obra no nosso país, essas empresas não conseguem concorrer em pé de igualdade com a China”, acrescenta. 

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Caminho de retomada

Na avaliação dos petroleiros, o caminho para revitalizar a produção do setor passa pela retomada de encomendas no mercado brasileiro. O ideal, de acordo com as entidades, era que a empresa voltasse a ter como base uma política de contemplação da indústria local e realizasse mudanças na estratégia empresarial da Petrobras, retomando seu papel no desenvolvimento econômico do país. 

“O atual governo federal não quer que as obras sejam feitas no Brasil. E a partir do momento que um governo federal quer que as obras sejam feitas no Brasil, falando não apenas da Petrobras, mas da própria ANP, a Agência Nacional do Petróleo, ele (Estado) tem que exigir no momento das licitações de petróleo que esse conteúdo local seja executado pelas empresas que vão ganhar e comprar os blocos para fazer a exploração de petróleo”, destaca o coordenador-geral do Sindipetro-NF. 

“Da mesma maneira que foi feito ali entre, principalmente, 2006 até 2013, quando a Petrobras, em média, investiu mais de US$ 30 milhões por ano, justamente por conta do pré-sal e dessas grandes encomendas que eram feitas no Brasil, isso pode voltar a ser feito e de imediato. A Petrobras cumpre esse papel desde a sua criação em 1953. Apesar de todos os governos que passaram de lá para cá, ela sempre cumpriu o papel de desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e regional de todo o Brasil. Então ela precisa voltar a fazer isso”, conclui Bacelar. 

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