Terceirizados

Precarização do trabalho afeta produção de merendas nas escolas públicas de São Paulo

Maior parte da categoria é contratada por empresas terceirizadas, de forma intermitente. Profissionais preparam refeição dos alunos, mas não conseguem comprar alimentos para os filhos

PMSP/Reprodução
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"Elas vão para as escolas preparar a merenda dos alunos. Mas muita delas não têm alimentos dentro de casa para dar aos seus filhos", denuncia sindicato

São Paulo – Atraso no pagamento, salário baixo e demissões em massa são algumas das dificuldades relatadas por merendeiros e merendeiras que trabalham nas escolas públicas da rede estadual de São Paulo. A maioria desses trabalhadores é contratada por empresas terceirizadas de forma intermitente, modalidade que permite ao empregador contratar um funcionário pagando somente pelas horas trabalhadas. 

Segundo a secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Refeições de Sorocaba e Região, Alessandra Bércio, a situação enfrentada pelos merendeiros e merendeiras já era difícil antes mesmo da pandemia de covid-19. Mas piorou com a retomadas das aulas presenciais em que as empresas justificam a precariedade alegando crise econômica. 

O retorno das aulas acarretou na questão dos contratos intermitentes. As empresas, por receio de uma nova suspensão das aulas (pela pandemia), contratam funcionárias todas como intermitentes. E essa funcionária que estava acostumada a receber x no mês, passou a receber y, porque a empresa agora paga por hora. E aí chegou dezembro do final do ano ela não teve férias, 13º salário. Várias empresas mandaram embora, e quem foi dispensada, não teve aviso (prévio), multa dos 40% (sobre o saldo do FGTS) ou o quê receber. Nós vemos muitas questões trabalhistas, brigamos por elas. Mas a questão social que essas funcionárias estão enfrentando é algo surreal. Elas vão para as escolas preparar a merenda dos alunos, mas muitas delas não têm alimentos dentro de casa para dar aos filhos”, comenta Alessandra.

Audiência na Alesp

As mesmas dificuldades são enfrentadas por merendeiras e merendeiros que trabalham em escolas de outras regiões do estado. O presidente do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Refeições Coletivas e Merenda Escolar do ABC Paulista, Genivaldo Barbosa, comenta que a situação provoca problemas físicos e emocionais entre a categoria. “Já pegamos escolas com 500 pratos para serem feitos por uma única merendeira”, denuncia. 

A precarização das condições de trabalho nas escolas públicas estaduais será debatia em audiência pública nesta quinta-feira (12), a partir das 18h, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A transmissão poderá ser acompanhada pelo canal no Youtube da Casa Legislativa.

Genivaldo reforça que entre as bandeiras de luta da categoria que serão levadas à audiência está a exigência para que o governo de São Paulo fiscalize as empresas terceirizadas. O objetivo é que o Estado tenha ciência se elas estão aptas ou não a prestarem os serviços. “Nossa bandeira principal é essa, a regularização das empresas que trabalham nas escolas para que elas sigam rigorosamente as convenções coletivas do segmento de merenda e contratar onde está faltando mão de obra. (…) queremos que o Estado tenha esse compromisso”, justifica o sindicalista.

Após questionamentos da Rádio Brasil Atual, a secretaria estadual de Educação alegou que não recebeu nenhuma queixa por parte das equipes de merenda que atuam nas diretorias de ensino do ABC Paulista e de Sorocaba sobre os atrasos nos pagamentos de salários. A pasta afirma ainda que as diretorias de ensino também não foram notificadas sobre o assunto. 

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