Intransigente

Com salário congelado há quatro anos, servidores federais buscam diálogo com governo

Desde que assumiu, o governo de Jair Bolsonaro não abriu mesa de negociação com o funcionalismo. Servidores alertam para os prejuízos à população trazidos pelo sucateamento do serviço público

Divulgação/Condsef
Divulgação/Condsef
Em mobilização desde o início do ano, o funcionalismo público federal reivindica 19,99% de reposição das perdas salariais

São Paulo – Com salários congelados há quatro anos, os servidores públicos federais buscam, sem sucesso, um caminho para negociar a reposição das perdas com a inflação nos três primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro. “Não estamos pleiteando nada. Apenas a correção da inflação no período, que é de 19,99%. Quando a gente vai ao posto de gasolina, ao shopping, ao supermercado, não há desconto para o funcionalismo, com o salário defasado, porque está com os salários congelados há quatro anos. Pagamos o mesmo preço”, disse hoje (25) à RBA o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva.

Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou no Fórum Econômico Mundial em Davos que o único aumento ao funcionalismo que cabe no orçamento do governo é de 5%, correspondente à inflação do ano medida até agora. E voltou a citar a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Departamento Penitenciário (Depen) para dizer que o governo privilegia essas categorias em caso de reajuste.

Guedes disse também que é possível “dar alguma coisa, mas esquece o que ficou para trás. Perdas acontecem. Todo mundo perdeu no mundo inteiro”. E que a reposição a todo o funcionalismo neste ano eleitoral só é possível até 5%.

“O governo mantém o desrespeito com o funcionalismo, não chama para conversar, para dialogar. Não há negociação”, disse o dirigente.

Na última quinta-feira (18), os principais fóruns do funcionalismo federal — o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) e o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) pediram audiência com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para discutir a recomposição salarial. Ainda não houve resposta. A expectativa é que o encontro aconteça no próximo dia 31, data em que haverá grande ato em Brasília para pressionar o governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.

A postura intransigente do governo de Jair Bolsonaro, na sua avaliação, é coerente com a poítica de “estado zero” para o povo, especialmente o mais pobre, com a ‘miserabilização’ e redução da oferta de serviços públicos. Uma estratégia para desviar recursos para garantir a amortização da dívida pública, garantindo pagamento a banqueiros.

Uma política, conforme lembrou, coerente com a destruição anunciada pelo próprio presidente em viagem aos Estados Unidos, logo no início do governo, em visita ao então presidente Donald Trump. “Foram lá dizer que iam vender e destruir tudo. É zero para o povo e zero para o serviço público, que se encontra na UTI”, disse a liderança, lembrando o contingenciamento do orçamento em todas as áreas, entre elas ciência e tecnologa, com cortes de 90%, que trazem prejuízo a toda à sociedade.

Servidores federais e população prejudicados

“O serviço público está engessado. Atualmente o INSS tem 19 mil servidores, menos da metade do que tinha 15 anos atrás. Por isso uma fila de 3 milhões de pessoas aguardando para poder acessar seus benefícios. No período, o país passou de 665 mil servidores para 501 mil. São 164 mil a menos. Cada servidor está sobrecarregado, fazendo o serviço de três. É assim no posto de saúde, no hospital, no INSS, na Justiça do Trabalho. E a população, na ponta, mal atendida”, disse.

Outro exemplo de como o sucateamento do serviço público afeta diretamente a vida da população é longa espera para a realização de cirurgias. “Tem gente esperando dois anos e o governo diz que é por causa da pandemia. É preciso zelo e respeito no atendimento ao povo, que está na ponta, e que é o patrão – e não o governo”, destacou.

Sérgio Ronaldo lembrou ainda que, além de economizar com o arrocho salarial dos servidores e com o desmonte dos serviços à população, o governo ainda tira proveito do impacto negativo resultante para reforçar a tese da ineficiência do serviço público, para justificar a privatização.

E que, ao manobrar a opinião pública contra os servidores, conta com o apoio da mídia tradicional, tendenciosa, que defende um estado que não atenda aos interesses da maioria da população, servindo à política econômica de Paulo Guedes. “A imprensa só dá oportunidade para um lado, e não para o contraponto, fazendo um deserviço. Tem lado, o dos empresários, como fazem ao defender ‘reformas trabalhistas’ que só retiram direitos e não criam os empregos que dizem que vão criar. Uma mídia que lamentavelmente tem de ser regulamentada”.

“Inadmissível que queiram jogar a população contra o funcionalismo. O Brasil foi a 6ª economia mundial e hoje é a 12ª, quase caindo para 13ª. Como país subdesenvolvido, a prioridade deve ser para o serviço público, que pode atuar na redução das desigualdades”.

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