SITUAÇÃO DELICADA

Medidas eleitoreiras de Bolsonaro são corroídas pela inflação e pelos bancos

Supervisor do Dieese, Vitor Pagani, afirma que custo de vida, endividamento e juros altos tornam medidas como liberação do FGTS sem efeito

Marcello Casal jr/Agência Brasil
Marcello Casal jr/Agência Brasil
Os dados da FGV mostram que o prevalece sobre o emprego formal nos estados do Norte e Nordeste, como Maranhã, Bahia, Pará, Ceará, Pernambuco e Amazonas

São Paulo – A alta taxa de inflação e de juros prejudica os trabalhadores a ponto de as medidas eleitoreiras do governo não surtir efeito na vida deles. “O governo anunciou o pacote eleitoreiro, prevendo a liberação de recursos do FGTS, antecipando o pagamento 13º do INSS, entre outras medidas. Isso dá um respiro insuficiente para a economia do país”, afirmao supervisor do Dieese em São Paulo, Vitor Pagani. Segundo ele, o sistema financeiro acaba se apropriando de parte desses recursos. “Então, não vai estimular nem o consumo, nem a atividade econômica como propagandeou o governo. Como isso se dá num contexto de escalada inflacionária, esses recursos são insuficientes”, diz o supervisor do Dieese.

Isso porque parte desse dinheiro vai pagar dívidas e parte é corroída pela inflação. “Além disso, essa política de liberação do Fundo de Garantia é um problema, pois desconsidera o objetivo do próprio fundo”, observa Pagani. Desse modo, os recursos do FGTS teriam um impacto maior na atividade econômica se fossem destinados a investimentos públicos. Por exemplo, em obras de infraestrutura, saneamento e moradia. Segundo ele, o saldo médio dessas contas que serão liberadas não compram nem um terço da cesta básica.

Auxílio Brasil e renda

Outro indicador preocupante do cenário de queda na renda e na atividade econômica é que o número de beneficiários do programa Auxílio Brasil é maior que o de empregos com carteira assinada em 12 dos 27 estados da Federação. Os dados são de estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) em parceria com o site Poder360.

Os resultados mostram que há prevalência do Auxílio Brasil no Norte e no Nordeste do país, nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe, Amazonas, Amapá e Acre. O Rio Grande do Norte é o único nordestino que registra mais empregos formais com carteira assinada do que beneficiários do Auxílio Brasil – mas a diferença é mínima: 437.717 potiguares recebem o benefício e há 438.871 empregos formais no estado.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Vitor Pagani, afirma que os dados são reflexo do desemprego elevado e da alta taxa de informalidade. O número de informais chegou a 25,9 milhões no 4º trimestre de 2021. “Isso está relacionado à ampliação do Auxílio Brasil e à deterioração do mercado de trabalho brasileiro. A retomada das ocupações ocorre no meio informal, somado aos trabalhadores que se tornam autônomos”, afirmou ele, em entrevista ao jornalista Glauco Faria.

Ainda de acordo com o levantamento, antes da pandemia, eram oito estados com mais benefícios do que empregos formais. Ao considerar o Brasil inteiro, houve aumento na proporção de benefícios em relação ao emprego formal. Em fevereiro de 2022, eram 18 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil e 41 milhões de empregados com carteira de trabalho. O número de benefíciários chegou ao inédito patamar de 44% dos empregos formais com carteira.


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