Lula e o novo presidente dos metalúrgicos do ABC destacam revisão de reforma e nova realidade do trabalho

Para Moisés Selerges, novo presidente, sindicato vive seu terceiro principal desafio histórico. E movimento deve considerar o “novo mundo do trabalho”

Reprodução YouTube
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Lula, Wagnão e Moisés com o João Ferrador, símbolo dos metalúrgicos desde os anos 1970: novos tempos

São Paulo – A partir deste sábado (29), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tem na presidência Moisés Selerges, até então secretário-geral da entidade, originalmente pintor na Mercedes-Benz, de São Bernardo do Campo. Ele substitui Wagner Santana, o Wagnão, da Volkswagen, que estava no cargo desde 2017 (e deve participar da campanha eleitoral deste ano). Presidente do então sindicato de São Bernardo e Diadema de 1975 a 1981, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva participou da cerimônia na sede da entidade, que não teve público presencialmente devido à pandemia. Lula e as eleições presidenciais deste ano foram os principais temas da posse, com destaque para uma possível revisão da “reforma” trabalhista implementada em 2017.

Nascido em 1966 e funcionário da Mercedes desde outubro de 1985, Moisés será o 14º presidente do sindicato, criado em 1959. E o nono depois de Lula. Ele terá Carlos Caramelo (Scania) na vice-presidência e Claudionor Vieira do Nascimento (Delga) como secretário-geral. Na posse, muitas lembranças sobre os tempos de resistência e reorganização ainda na ditadura, criação da CUT (1983), reestruturação produtiva nas fábricas e “reformas” como a trabalhista, até chegar ao “inimigo invisível”, como disse Wagnão, referindo-se ao coronavírus. E agora o movimento sindical precisa considerar “o novo mundo do trabalho”, na era digital, como alertou Moisés em seu discurso de posse, que falou em “capitalismo de plataforma”.

Desafios históricos

O novo presidente afirmou que o sindicato vive seu “terceiro grande desafio histórico”. O primeiro foi na própria construção da entidade, no final dos anos 1950, um período turbulento e marcado pela chegada de multinacionais ao Brasil. E o segundo foi a “reação organizativa-sindical” ao arrocho salarial imposto pela ditadura. E agora com a nova realidade do mundo do trabalho, que exige compreensão e visão “de baixo para cima”.

Lula afirmou que os jovens de hoje têm muito mais estudo que os trabalhadores de sua geração, mas têm mais incertezas quanto ao futuro profissional. Lembrou que durante anos se insistiu no discurso de que direitos eram “custo Brasil” e que na medida em que eles diminuíssem a mão de obra ficaria mais “barata” e haveria mais empregos e melhores salários. “É mentira”, acrescentou. O ex-presidente citou dados divulgados ontem (28) pelo IBGE apontando a maior queda na renda na série histórica de pesquisa sobre o mercado de trabalho.

Precarização e ações da Petrobras

Ele fez menção também, como Moisés, ao trabalho por aplicativos. “O trabalho está precarizado. Não tem direito, não tem carteira profissional, não tem férias… Estamos voltando a ser párias em uma sociedade capitalista que se moderniza com avanço tecnológico, mas não atinge a classe trabalhadora.”

Moisés (à esq.) assume no lugar de Wagnão. Ele será o 14º presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, o nono depois de Lula (Adonis Guerra/SMABC)

Sobre uma declaração sua a respeito de dividendos pagos aos acionistas da Petrobras ter supostamente feito as ações da empresa caírem, Lula disse ainda que a companhia está com “30% de ociosidade” no refino. “Se a gente ganhar as eleições, a gente vai mudar esse jogo”, acrescentou, fazendo também críticas ao governo pela elevação do custo de vida. “Hoje, 40% da inflação que corrói a vida do povo trabalhador são de preços controlados pelo governo.”

Arte e independência

Moisés falou sobre a greve geral de 1917, “que sacudiu as velhas oligarquias”, e sobre a Semana de Arte Moderna em 1922, “verdadeiro divisor de águas da cultura brasileira”. E lembrou que o Brasil chegará em setembro aos 200 anos de sua independência. “Mas o que representa a independência hoje com ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres? Que independência nós vamos comemorar?” Quase ao final, os três posaram com uma pequena estátua do João Ferrador, símbolo dos metalúrgicos do ABC desde os anos 1970.

A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também falou em “rever e consertar os estragos da reforma trabalhista”. Uma reforma, salientou, que “não deu certo”. “Está na hora, sim, de fazer essa discussão.” E isso nada tem a ver com volta do imposto sindical, observou. “O que nós queremos é que os trabalhadores tenham força para se organizar, assim como os patrões estão organizados e fazem seus lobbies. (…) Está na hora de fazer um grande movimento para resgatar nossa soberania  e salvar o Estado da destruição.”

O presidente estadual do PT em São Paulo, Luiz Marinho (também ex-presidente do próprio sindicato, além de ex-prefeito de São Bernardo), participou presencialmente da posse. Além dele, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, que igualmente comandou o sindicato e saiu da Mercedes, como Moisés. Dezenas de vídeos foram enviados, com entidades sindicais do país e internacionais, além de políticos.

Moisés também conversou com a apresentadora Talita Galli, da TVT. Assista aqui.


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