Medida antissindical

Doria trai acordo com metroviários e dá sequência à venda da sede do sindicato

Na terça-feira, os trabalhadores ocuparam a sede do Metrô, no centro da capital paulista, e prometeram paralisações caso o governo não cumpra acordo

Paulo Iannone/Sind. Metroviários
Paulo Iannone/Sind. Metroviários
"Vamos resistir, lutar e exigir do governo que cumpra o que foi combinado. E se for o caso vamos mobilizar a categoria contra esse absurdo de não cumprir a palavra acordada", anunciou o sindicato

São Paulo – Pouco mais de um mês após firmar um acordo com os metroviários de São Paulo para suspender a venda do terreno da sede do sindicato, o governo de João Doria (PSDB) traiu os trabalhadores, afirmam os sindicalistas. Segundo o coordenador da entidade Altino Prazeres, o governo tucano recebeu, na última segunda-feira (8), a parcela que faltava para oficializar a venda do espaço para a Porte Engenharia, vencedora do leilão.

“O governo tinha acertado que deixaria a sede com o Sindicato dos Metroviários. E que ele também ia ver as formas legais de fazer isso e a gente não teria problema. E mais, que ia acertar também o acordo da campanha salarial que não conseguimos resolver com a empresa neste ano, porque fizemos a greve. Aparentemente estava tudo acertado, só que precisava assinar o acordo. E aí a gente descobriu na segunda que a empresa Porte Engenharia pagou 80% do valor e que o Metrô já ia assinar a desocupação do terreno para essa empresa”, explica.

Na terça (9), os trabalhadores ocuparam a sede do Metrô, no centro da capital paulista, reivindicando uma reunião com o diretor-presidente da companhia, Silvani Pereira, e o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo Galli. Altino destaca que os metroviários não descartam novas mobilizações e paralisações para impedir a venda e o despejo da sede. “Vamos resistir, lutar e exigir do governo que cumpra o que foi combinado. E se for o caso vamos mobilizar a categoria contra esse absurdo de não cumprir a palavra acordada. Esse absurdo mostra que a empresa Porte Engenharia, por algum motivo, tem um peso muito grande pelo menos no Metrô de São Paulo. Porque eles conseguem ganhar da decisão do governo que manda na empresa”, critica.

Entenda o caso

O acordo para suspender a venda do terreno, sede do Sindicato dos Metroviários, foi firmado em 29 de setembro, em uma reunião entre parlamentares, líderes sindicais e representantes do governo Doria. Ficou acordado que o Estado cancelaria a venda e assinaria um novo termo de concessão de uso da área onde está a sede do sindicato. O encontro teve participação dos deputados federais Orlando Silva (PCdoB-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP), do secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, do vice-governador, Rodrigo Garcia, e do secretário de Projetos e Ações Estratégicas, Rodrigo Maia.

Além disso, foi acordado também que o governo iria acatar a decisão da Justiça do Trabalho. Nesse caso, mantendo o atual acordo coletivo da categoria, aplicando um reajuste salarial com reposição da inflação do período. De seus 40 anos de existência, o Sindicato dos Metroviários está há 31 anos na atual sede, na Rua Serra do Japi, no Tatuapé, zona leste da capital paulista. Em 1990, o então governador paulista, Orestes Quércia, estabeleceu um termo de concessão de uso aos trabalhadores metroviários.

Os trabalhadores relatam que foi a categoria, com seus próprios recursos, que construiu o edifício sede com salas, quadra, estúdio musical e até uma praça. Em maio, no entanto, sem qualquer diálogo com a categoria, o Metrô leiloou o terreno e ingressou com um pedido de reintegração de posse para despejar os trabalhadores. Os metroviários relataram que não lhes foi dada qualquer oportunidade de negociação ou participação na venda. Eles também consideram que a ação foi uma “medida antisindical”.

Nos últimos meses, houve vários indicativos de que o despejo seria realizado, mas isso não ocorreu. A Rádio Brasil Atual questionou o governo Doria sobre o rompimento do acordo com os metroviários, mas não obteve resposta.

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