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CUT lança campanha de solidariedade e denuncia sanções aos venezuelanos

Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza foi o convidado do ato virtual sobre auxílio à recuperação de usina de oxigênio que socorreu Manaus

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Sérgio Nobre e Jorge Arreaza: solidariedade entre trabalhadores

São Paulo – A CUT lançou na tarde desta terça-feira (29) uma campanha para levantar fundos a fim de ajudar a Venezuela a repor peças e equipamentos de uma usina de oxigênio industrial. O insumo foi prontamente doado pelo país na crise de abastecimento que levou Manaus a cenas dantescas no início de janeiro. A central sindical brasileira, por isso, faz da campanha um agradecimento à solidariedade e de denúncia contra as sanções econômicas impostas ao país pelos Estados Unidos, principalmente, e por aliados.

O lançamento contou com a participação do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, que exaltou a unidade latino-americana como peça motriz da Revolução Bolivariana. A live teve a participação de jornalistas da Rede Brasil Atual, Brasil 247, Opera Mundi, GGN, Brasil de Fato, Barão de Itararé e CartaCapital.

“A filosofia de Simón Bolívar é da unidade, de um único povo. Nossa grande pátria, nossa América, como uma só nação é a nossa filosofia na Revolução Bolivariana. Assim como a Revolução Cubana é infinitamente solidária, também é a Revolução Bolivariana. Mais do que um gesto de solidariedade, era uma obrigação moral, histórica, ética ajudar o povo brasileiro”, afirmou Jorge Arreaza. Foi ele quem articulou ativamente com o presidente Nicolás Maduro o fornecimento de oxigênio para Manaus. Foram enviados 130 mil litros, mesmo com dificuldades causadas por falta de peças de equipamentos inclusive nos caminhões do traslado.

Classes trabalhadoras

“Se há uma campanha de retribuição é para ajudar os trabalhadores. Foram os trabalhadores de Sidor, da planta industrial de oxigênio de Sidor, que prepararam os caminhões, a cisterna, que conduziram para Roraima, para o Amazonas. Foram eles que fizeram esse grande gesto para o Brasil. Então, agora, nós também recebemos esta bela campanha que agradecemos do fundo do coração”, acrescentou o venezuelano. “As classes trabalhadoras de nossos países unidas podem enfrentar qualquer desafio, qualquer agressão, qualquer bloqueio. Muito obrigado por a Venezuela sempre estar no coração da classe trabalhadora do Brasil.”

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, deu as boas-vindas ao chanceler da Venezuela, ao lado do secretário de Comunicação da central, Roni Barbosa. “Nosso país tem uma rede de produção de equipamentos, de máquinas, de autopeças, que está trabalhando com metade da capacidade porque não tem para quem vender. Um absurdo! Então, assumimos esse compromisso com os trabalhadores da Venezuela, de levantar os recursos e comprar todos os equipamentos para recuperar a usina, conseguir capacidade total, e também para os veículos que estão parados. É uma oportunidade de retribuir a solidariedade e também de denunciar esse bloqueio econômico criminoso, irresponsável e que não pode continuar”, afirmou Sérgio Nobre.

Bloqueio à Venezuela

A questão do bloqueio está no cerne dos problemas venezuelanos. São mais de 150 em vigor atualmente, a maior parte deles protagonizado pelos Estados Unidos. Outras nações do chamado imperialismo completam a lista, como Canadá, Reino Unido e países da União Europeia. No campo do petróleo, por exemplo, dificultam a aquisição de componentes tecnológicos, derrubando vertiginosamente a produção.

O governo venezuelano fala em perdas de US$ 30 bilhões, ou cerca de R$ 150 bilhões, por ano. Por isso, em março, protocolou denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Tribunal Penal Internacional, por crime de lesa-humanidade. Há, ainda, graves sansões no sistema bancário e em áreas de tecnologia e transporte. Além disso, Maduro e representantes do Legislativo e Judiciário não podem ir aos Estados Unidos, que prefere reconhecer ao ex-deputado Juan Guaidó o direito de gerenciar em terras estadunidenses a filial da estatal petroleira PDVSA, o maior bem público venezuelano no exterior.

Sabiam onde golpear

“Nossa indústria petroleira é o grande fator multiplicador da economia. O estado que recebe os lucros do petróleo é um estado muito forte. Que garante educação pública, saúde pública, tem grandes políticas de atenção e proteção social, subsídios para a população e obras de infraestrutura. Serviços fundamentais são estatais. De água, eletricidade, gás”, dissse Arreaza. “Assim que sabia muito bem os Estados Unidos onde golpear.”

O ministro afirmou ainda que o país deveria estar produzindo 3 milhões de barris por dia, mas não consegue passar de um terço. Lembra que não puderam exportar “uma gota de petróleo” entre o final de 2019 e todo 2020, gerando queda de 99% entre 2015 e 2020. “A cada cem dólares que recebemos em 2015, recebemos um dólar em 2020.” Apesar disso, o representante do governo Maduro afirma que o país conseguiu se manter, aprendeu a contornar boa parte dos problemas e aos poucos vai se reerguendo. “Se os Estados Unidos levantam as sanções, será muito bem-vindo. Se não levantam, sabemos como seguir em frente.”

Força revolucionária

Respondendo a uma questão da jornalista Clara Assunção, da RBA, o venezuelano enalteceu a força revolucionária dos habitantes da América Latina e do Caribe. “São povos revolucionários por natureza. São povos humildes, trabalhadores, solidários, igualitários. Tenho certeza de que se houvesse democracia de verdade em nossos países, todos os governos seriam revolucionários”, falou Jorge Arreaza. Acrescentou que os latinos se unem na dor, na qual visões diferentes são deixadas de lado. “Queremos que todos os nossos povos sejam felizes, que tenham educação, saúde, alimentação, que sorriam”. Para isso, afirma ser necessário ocupar espaços em meio a um pêndulo incerto de movimentações políticas. “Assegurar os espaços que vamos assumindo e conquistando novos.”

Arreaza disse também ser necessário não confundir governos com povos. “Nunca confundimos o senhor que senta na Casa Branca, as corporações e os lobbies financeiros que dão as ordens para o homem que senta na Casa Branca, com o povo dos Estados Unidos”. O cenário é parecido com o atual, no Brasil. Algo estranho, destaca o chanceler, mesmo antes dos tempos dos governos Lula e Dilma. “Agora temos um governo que nos agride, nos ataca, não nos reconhece. Bom, para lá fica o governo, nosso objetivo é que o povo brasileiro e o povo venezuelano podem gerar benefícios e que possamos construir um futuro comum.”

Aliados na pandemia

As dificuldades causadas pelo bloqueio na gestão da pandemia foram contornadas com ajuda de países aliados estratégicos, como a Rússia, que forneceu vacinas Sputnik V e Sputnik Light, e a China, com imunizantes e insumos. Logo mais devem receber doses da Abdala, vacina cubana.

Arreaza relatou dificuldades para comprar máscaras, respiradores, remédios, antivirais. Apesar disso, garante, na Venezuela todos os tratamentos para a covid-19 são grátis. “Desde o analgésico, antiviral, se vai para a terapia intensiva, respirador, tudo é grátis.”

Veja a live na íntegra


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