retribuição

CUT lança campanha de ajuda a usina de oxigênio da Venezuela

Com “live” de lançamento às 16h desta terça, campanha quer levantar recursos para manutenção de fábrica do país, e retribuir doação feita a Manaus no auge da crise de janeiro

Facebook / jaarreaza.ve
Facebook / jaarreaza.ve
Jorge Arreaza, ministro das Relações Exteriores da Venezuela

São Paulo – A CUT lança nesta terça-feira (29), às 16h, campanha com objetivo de arrecadar recursos para manutenção de usina de oxigênio hospitalar da Venezuela. A ação pretende também retribuir a solidariedade dos trabalhadores daquele país no episódio de doação de oxigênio hospitalar durante o colapso no sistema de saúde em Manaus. O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, é o convidado do ato virtual de lançamento.

Apesar de enfrentar, desde 2015, mais de 150 ações de bloqueios e sanções econômicas, a Venezuela doou cerca de 130 mil litros de oxigênio em janeiro deste ano, gesto nunca agradecido pelo governo brasileiro. À época, o anúncio do envio foi feito pelo próprio Arreaza. “Por instruções do presidente Nicolás Maduro, conversamos com o governador do estado do Amazonas, Wilson Lima, para disponibilizar imediatamente o oxigênio necessário para atender o contingente de saúde em Manaus. Solidariedade latino-americana acima de tudo!”, escreveu, em meados de janeiro. O insumo saiu da Siderúrgica de Orinoco (Sidor), no sul do país.

Na live de lançamento da campanha em solidariedade à Venezuela, o chanceler responderá perguntas feitas por jornalistas das mídias que farão a transmissão simultânea: TVT e redes sociais da CUT, RBA, Brasil 247, Opera Mundi, GGN, Brasil de Fato, Fórum, Barão de Itararé e Carta Capital.

CUT
Sérgio Nobre e Jorge Arreaza

Relação solidária

O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, afirma que a central sempre manteve relação solidária com os sindicatos venezuelanos. “É importante retribuir a solidariedade dos trabalhadores da Venezuela”, afirma, ao destacar que os problemas são parecidos em boa parte do mundo.

“A CUT tem tomado iniciativas para ampliar a aproximação com o movimento sindical da América Latina, diante do distanciamento que o Brasil impõe a maioria dos países da região, incluindo o sindicalismo e demais movimentos progressistas. A luta sindical e popular, cada vez mais globalizada, exige ainda mais unidade e integração internacional”, afirma. “É momento de retribuir a solidariedade, pois a diplomacia que nos interessa é a diplomacia da classe trabalhadora.”

Descaso diplomático

A campanha lembra que 130 mil litros de oxigênio doados pela Venezuela ao Brasil foram transportados por oito caminhões próprios, frota que sofre com a falta de peças de reposição e manutenção por força do embargo. O país reuniu 107 médicos venezuelanos e brasileiros, formados pela Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, para auxiliar na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus na região amazônica.

Nada disso mereceu agradecimento do Brasil. O descaso do governo brasileiro com o ato de solidariedade da Venezuela chegou até a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, a CPI da Covid, quando o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado por não ter enviado, pelo menos, aviões para buscar o oxigênio em território venezuelano. Pazuello, porém, nada disse. Outro ex-ministro, Ernesto Araújo (Relações Exteriores) confirmou à mesma CPI não ter agradecido à Venezuela pela doação do oxigênio hospitalar.

Bloqueio e petróleo

A Venezuela tem 28 milhões de habitantes, em área similar ao estado do Mato Grosso, e abriga a maior reserva petrolífera do mundo. Porém, o país importa 70% do que consome e, como enfrenta mais de 150 sanções econômicas, tem dificuldades em conseguir tudo o que precisa. São 62 sanções por parte dos Estados Unidos, nove da União Europeia, cinco do Canadá e outras cinco do Reino Unido. Elas dificultam, por exemplo, a aquisição de componentes tecnológicos para a produção e o refino do óleo, causando queda de 60% na produção. O prejuízo dos venezuelanos por conta do embargo econômico é de US$ 30 bilhões por ano, segundo o governo.

Em 26 de março, o país protocolou denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme anunciou Arreaza. Também já apresentou denúncia contra Washington na Corte Penal Internacional, na qual sustenta que o bloqueio é crime de lesa-humanidade.

Cerco criminoso

A Venezuela ainda enfrenta sanções do sistema que faz a mediação das transações entre bancos em todo o mundo, causando retenções bancárias. Entre 2020 e o início de 2021, 28 empresas de tecnologia, transporte e petrolíferas foram sancionadas pelo Tesouro americano por fazer negócios com organizações venezuelanas. O direito de ir e vir também foi afetado pelo bloqueio. Nicolás Maduro e assessores da presidência e dos poderes Legislativo e Judiciário estão impedidos de viajar aos Estados Unidos. Enquanto isso, a Casa Branca apostou em reconhecer o ex-deputado Juan Guaidó como autoridade venezuelana. E assim, concedeu-lhe o direito de gerenciar a Citgo Petroleum, filial da estatal petroleira PDVSA nos Estados Unidos, o maior bem público venezuelano no exterior.