Cartas marcadas

Metroviários de São Paulo não aceitam leilão da sede e avisam: ‘Palavra é resistir’

Coordenador do sindicato denuncia “cartas marcadas” na venda, fechada por metade do valor de mercado. “O que justifica isso para uma empresa que disse que estava precisando de dinheiro?”

Paulo Iannone / Sindicato dos Metroviários
Paulo Iannone / Sindicato dos Metroviários
Manifestação contra a venda: metroviários vão seguir brigando na Justiça, garante Fajardo (com o microfone)

São Paulo – O Sindicato dos Metroviários de São Paulo não aceitou o leilão da sede da entidade realizado nesta sexta-feira (28). O coordenador da representação dos trabalhadores, Wagner Fajardo, afirmou que a venda do terreno foi claramente “de cartas marcadas” e que a categoria não vai deixar o prédio. “A palavra de ordem nossa aqui é resistir. Não vamos sair daqui, porque não achamos que o processo foi lícito.” O martelo foi batido por R$ 14,4 milhões, metade do valor de mercado do imóvel, avaliado em R$ 29 milhões.

“A empresa que ganhou (UNI 28) foi criada com o nome do lote que o Metrô colocou na licitação. Foi registrada no dia 3 de maio, depois do edital, com capital social de R$ 10 mil. Foi criada para isso e fez um acerto. Ela ganhou o leilão com R$ 9,1 milhões e, em conversa com o Metrô, publicamente, chegou a R$ 14,4 milhões”. Cartas marcadas? “Completamente. Como uma empresa criada com capital social de R$ 10 mil faz uma compra de um terreno por R$ 14,4 milhões? Criada com o nome do lote, no dia 3 de maio, após a decisão de licitar o terreno”, revolta-se Fajardo. “Ninguém cria uma empresa pra participar de uma licitação se não tiver certeza que vai ganhar. Leilão de cartas marcadas!” A data de publicação do edital é 27 de abril de 2021.

Retaliação após derrotas

O coordenador do sindicato acrescenta que o objetivo do leilão foi “favorecer alguém em detrimento da organização dos metroviários. Desalojar e nos impor uma derrota”. Segundo Fajardo, trata-se claramente de retaliação contra a categoria, “que não se curvou ao governo Doria”, derrotado em dois acordos coletivos. “Queriam destruir o nosso acordo coletivo e a gente ganhou.”

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A disputa está no Tribunal de Justiça de São Paulo. A categoria já havia entrado com um pedido de liminar para suspender a venda, não concedida. “Agora, vamos ter mais argumentos para provar que além de ser um leilão de cartas marcadas foi lesivo ao patrimônio público. Está se vendendo uma imóvel de R$ 29 milhões por R$ 14,4 milhões. O que justifica isso para uma empresa que disse que estava precisando de dinheiro?”, questiona Fajardo. “Isso é escandaloso.”

Centro de luta e cidadania

O terreno foi cedido pelo governo de São Paulo no final da década de 1980 pelo regime de comodato, uma espécie de empréstimo sem custos. Para vender o imóvel, a gestão Doria alega que o Estado precisa fazer caixa após queda do número de passageiros por conta da pandemia. Segundo matéria da Folha de S.Paulo, o governo alega que o termo de permissão de uso estabelece que as construções feitas ali serão incorporadas, o que deixaria os trabalhadores em direito a receber pelo prédio que levantaram no local.

A sede foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1990, usando recursos da própria categoria para a construção. Conta com quadra poliesportiva, estúdio musical, salas e área de lazer. Ao longo dos anos, recebeu inúmeras atividades como atos, assembleias, congressos, eventos esportivos, festas e etc, além de diversos artistas, parlamentares, intelectuais, movimentos e organizações. “É um espaço que foi criado no final da ditadura para ser do trabalhador, do movimento social e da luta do povo brasileiro e é por isso que ele é tão odiado pelos neoliberais, como o Doria”, define Fajardo.

Revolta

O leilão da sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo foi marcado por mobilizações dos trabalhadores. Uma pela manhã, em frente à Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, no centro da capital paulista, onde ocorreu a venda. Compareceram Paulo Fiorilo, deputado estadual pelo PT, Guilherme Boulos, candidado à prefeitura nas últimas eleições pelo Psol, e o ex-deputado federal Jamil Murad. No início da tarde, foi realizado um abraço à sede do sindicato, localizado na Rua Serra do Japi, 31, no Tatuapé, zona leste da cidade. Também ocorreram tuitaços com as hashtags #eurespeitoosmetroviarios #euapoioosmetroviarios.


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