Sob nova direção

Representante dos trabalhadores no conselho da Petrobras espera diálogo com gestão Luna e Silva

Rosangela Buzanelli não acredita em grandes mudanças, mas vê espaço para apresentar ponto de vista da categoria, algo sistematicamente negado na gestão Castello Branco

© Divulgação
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Rosangela considera um desastre a gestão anterior, de Castello Branco

São Paulo – A posse da nova diretoria da Petrobras, encabeçada pelo general Joaquim Silva e Luna, está sendo encarada pela representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (CA) da estatal, Rosangela Buzanelli, como uma oportunidade para o diálogo. Algo que não se via anteriormente, quando a empresa estava sob comando de Roberto Castello Branco, uma gestão, segundo ela, marcada pela falta de uma troca produtiva de pontos de vista. Com os pés no chão, ela tem ciência de que não haverá grandes mudanças de rumo, mas entende ser fundamental uma abertura para debater temas como preços dos combustíveis e estratégia.

“Uma das marcas registradas da gestão Castello Branco é a falta de diálogo. Eu costumo dizer que ele não dialoga, ele discursa. O general Joaquim Silva e Luna é experiente, passou por várias áreas no exército e assumiu a presidência da Itaipu. O que a gente consegue colher é que ele é um homem que dialoga”, comenta a petroleira, deixando claro desde o início que não fala em nome do conselho, e sim como representante dos trabalhadores da Petrobras no colegiado. “Se a gente tiver a possibilidade de conversar, podemos mostrar alguns pontos de vista diferentes, porque antes isso era impossível”, completa Rosangela.

Sobre o presidente que deixou a empresa, é clara na avaliação: “acho que a gestão Castello Branco foi o maior desastre depois do Fernando Henrique, se é que não foi pior. Eu tenho 34 anos de empresa, passei pela era Collor, Fernando Henrique, e esta (do Castello Branco) está sendo a pior de tudo o que eu vivi. O Fernando Henrique não teve a coragem de fazer o estrago que o Castello Branco fez”, comenta. “E essa falta de diálogo não é apenas com os trabalhadores. Até com os próprios pares”.

Papel social

Um dos pontos centrais hoje na Petrobras é a atual política de preços, totalmente inadequada para o Brasil por ter paridade com a importação, enquanto e o país produz mais de 90% do que precisa. “Não faz sentido colocar preço de importação. É como se fossemos um Chile ou um Japão, que não produzem quase nada”, compara. Rosangela qualifica como “insano” o sistema atual. “É o preço do barril lá fora, mais o frete, mais as taxas de importação, tudo na base do dólar. Então tem o câmbio, ainda, que também agrava”, acrescenta.

A representante dos trabalhadores defende uma política que “olhe para a sociedade e para o acionista”. “Hoje é política de lucro máximo, de retorno máximo. Uma política de uma empresa privada, não de uma estatal de economia mista. Prioriza o mercado sempre, em detrimento da sociedade brasileira”, afirma. Ela lembra que o Brasil usa mais de 90% de petróleo nacional e tem capacidade para refinar e abastecer o país. “A gente tem de olhar o peso do nosso custo nacional, que é muito mais barato. Nós produzimos no pré-sal, por exemplo, a US$ 7 o barril. O nosso custo de produção e refino é mais baixo do que o de importação.”

Ela fala também em uma política social, sem aliviar os preços de consumo mais elitizado, como a aviação, e amenizar para os que afetam mais a população em geral, especialmente de mais baixa renda, como o gás de cozinha e o diesel. “O gás de cozinha não um produto dos mais significativos na produção. Então você consegue compensar um pouco o preço, porque ele é fundamental para as famílias. Pode priorizar o preço do diesel, porque nosso modal de transporte é rodoviário, então se sobe o diesel sobe tudo. E pode não aliviar no querosene de avião”. Rosangela destaca ser importante passar para Joaquim Silva e Luna a visão de que a Petrobras tem um papel social, fundada para descobrir petróleo e abastecer o país, não remunerar acionistas.

Privatização das refinarias

Outro tema na pauta do dia é a política de privatizações levadas adiante pelo gestão Bolsonaro e Paulo Guedes. Assim, após transferir a BR Distribuidora – a maior do setor de distribuição de combustíveis do país – para a iniciativa privada, chegou a vez das refinarias. A primeira da lista foi justamente a primeira construída no Brasil, a Landulpho Alves, na Bahia. “Eu tenho esperança que o general Silva e Luna pare pra olhar, pelo menos. A área de refino é muito estratégica para o país e para a Petrobras”, diz Rosangela.

Ela lembra que a justificativa para as vendas é abrir o mercado do refino, quebrar o monopólio. Porém, o monopólio da Petrobras foi quebrado em 1997, no governo FHC. “Cadê as empresas sedentas de investir no Brasil? Onde foi que fizeram uma grande refinaria? Não fizeram, é um investimento brutal e eles (capital privado) não querem, querem é comprar pronto.”

A Petrobras tem 13 refinarias e planeja vender oito. Além da Landulpho Alves, a Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná; Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco; Unidade de Industrialização do Xisto (Six), no Paraná; Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul; Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais; Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas; e a Lubnor, localizada no Ceará.


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