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Jornalistas do Ceará sofrem com avanço da precarização do trabalho

Profissionais de comunicação enfrentam os riscos provocados pela pandemia de covid-19 “totalmente descobertos”, segundo o sindicato, há três anos sem reajuste

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Sistema Verdes Mares, um dos maiores empregadores do estado, cortou o salário dos jornalistas em 25%

São Paulo – O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) denunciou nesta segunda-feira (8) as condições de precarização no trabalho a que estão submetidos os jornalistas do estado. Colocados como essenciais na batalha contra a desinformação, os jornalistas cearenses enfrentam os riscos provocados pela pandemia de covid-19 “totalmente descobertos”, segundo o sindicato.

“Além das precárias condições de trabalho, os operários e operárias da notícia do Ceará estão há pelo menos três anos sem reajuste salarial e sem Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) – instrumento jurídico que prevê um conjunto de direitos específicos da categoria”, afirma.

A situação é provocada pela “intransigência dos principais conglomerados de comunicação do Estado, que dirigem os Sindicatos das Empresas de Rádio e Televisão (Sindatel) e de Jornais e Revistas do Ceará (Sindjornais)”.

O sindicato diz que vem tentando negociar com os patrões durante todo esse tempo, mas só recebe desculpas evasivas e nenhuma proposta concreta para restabelecer os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras da mídia.

Sem aumento, os jornalistas viram o poder de compra de seus salários encolher. A cesta básica fechou o ano passado 23,37% mais cara em Fortaleza, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

No limite

Em plena pandemia, os maiores empregadores – Sistema Verdes Mares, Sistema Jangadeiro e Grupo O Povo – cortaram pelo menos 25% dos salários durante nove meses, o que levou muitos trabalhadores à situação de desespero: falta dinheiro pra tudo – alimentação, aluguel, mensalidades escolares etc. Pelo menos 202 jornalistas foram impactados pelas medidas de redução salarial e suspensão contratual no ano passado.

Direitos como diária de viagem, auxílio-creche, adicional para a área policial, gratificação de chefia e adicional de hora-extra, que fazem a diferença para o grupo cujo pisos salariais se equiparam a dois salários mínimos, estão sendo atacados pelos empregadores ao se negarem a renovar as CCTs. Além de tudo isso, 100% da categoria ainda arca com os custos do home office, conforme pesquisa feita pelo Sindjorce.

“Os jornalistas do Ceará são colocados sob risco sanitário, sobrecarga de trabalho, multifunção e ainda são obrigados a utilizar recursos próprios para manter o trabalho em casa. Ao mesmo tempo, grupos como o Sistema Verdes Mares, O Povo, Cidade e Sistema Jangadeiro mentem para a sociedade, afirmando que valorizam o jornalismo profissional. Na nossa avaliação, valorizar o jornalismo é garantir trabalho decente e remuneração digna para os profissionais da área”, desabafa Rafael Mesquita, presidente do Sindjorce e diretor de Mobilização da federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).