Demissões em massa

Trabalhadores da Embraer criticam descaso e cobram Doria por ausência de política industrial

Indiferença do governador Doria com a situação de uma das principais empresas paulistas é destacada em audiência pública para debater as 2.500 demissões

Sindicato dos Metalúrgicos de SJC
Sindicato dos Metalúrgicos de SJC
Menos de três meses após tomar R$ 1,5 bilhão no BNDES, Embraer demite 2.500 trabalhadores. Governo Doria nada faz para manter ativa uma das principais empresas do país.

São Paulo – Fundada há 51 anos em São José dos Campos, a Embraer atualmente tem unidades em Botucatu, Gavião Peixoto, Taubaté, Sorocaba e Campinas, além de outras cidades no Brasil e no Exterior. Uma das 100 maiores do setor aeroespacial no mundo, a companhia privatizada em 1994 ainda é motivo de orgulho para muitos brasileiros e, em especial, para os paulistas. No entanto, passa por dificuldades trazidas pela crise do coronavírus, que afetou duramente o setor. E menos de três meses após empréstimo de R$ 1,5 bilhão junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), demitiu 2.500 trabalhadores. A perspectiva de impactos sobre toda a cadeia é grande. E nem assim o governador João Doria (PSDB) se posicionou a respeito.

Trabalhadores da Embraer buscam apoio da opinião pública para reverter demissões

O desdém do tucano com uma das principais empresas do estado e do país foi um dos pontos mais criticados por trabalhadores, lideranças e parlamentares que participaram de audiência pública realizada na noite de hoje (14) pelos mandatos dos deputados estaduais Professora Bebel e Emídio de Souza, ambos do PT.

Preservação dos empregos

“Haverá demissões na cadeia produtiva da Embraer. A Assembleia Legislativa de São Paulo pode fazer um documento cobrando posicionamento do governo na preservação dos empregos. Isso é o mínimo que se espera de um governo que não tem feito muita coisa para resolver os problemas do estado. Temos de cobrar ainda esclarecimentos sobre a sua política industrial”, disse o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo.

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) também criticou o silêncio de Doria. “Outros governadores se mobilizam em defesa de empresas até menos importantes que a Embraer”, lembrou.

“Ao todo serão mais de 7 mil demissões, mais de 7 mil sonhos e projetos interrompidos, apesar dos recursos públicos investidos por meio do BNDES. Este é o resultado, demissões em meio à pandemia. É tarefa do governador Doria intervir, senão ele será coparticipante das demissões”, disse Atnágoras Lopes, da secretaria executiva da CSP Conlutas nacional, central sindical que defende a reestatização da Embraer.

Embraer pública de novo

O tema da reestatização foi consenso entre os participantes. Sem dar exemplos, o professor de Economia dos cursos de gestão da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Campinas (Unicamp), Marcos José Barbieri Ferreira, disse que muitos países europeus estão reestatizando companhias aéreas que quebraram devido à crise. “Muitas delas estavam operando com menos de 10% dos trabalhadores”.

No final de abril, o senador Jaques Wagner (PT-BA) apresentou projeto que orienta a participação do BNDES em um futuro processo de reestatização da Embraer (PL 2.195/2020). A proposta surgiu logo após o rompimento da parceria com a empresa estadunidense Boeing. Para o senador, a forte crise que se abate sobre o setor de aviação no mundo cobra uma ação do governo brasileiro para preservar a grande cadeia de negócios em que a Embraer está inserida.

O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Herbert Claros, lembrou que as mais de 2.500 rescisões estão sendo pagas com dinheiro público, referindo-se ao valor emprestado à empresa junto ao BNDES. E criticou os altos salários pagos a mais de 1.700 executivos da empresa, que segundo dados obtidos pelo sindicato, são superiores a R$ 50 mil mensais, valor em descompasso com o de outros salários em empresas do porte. “Mas são os pais e mães de família dos trabalhadores que ganham baixos salários que vão pagar a conta”, disse.

Centrais sindicais

Pela manhã, as centrais sindicais brasileiras divulgaram nota conjunta em que reivindicam a anulação das 2.500 demissões já anunciadas na Embraer. “Depois do fracassado acordo com a Boeing, a empresa quer descarregar nas costas dos trabalhadores o custo do desastre que a própria direção da empresa causou”, diz trecho da nota. 

Leia a nota na íntegra:

Nota das Centrais Sindicais

Pela anulação das demissões na Embraer

As centrais sindicais brasileiras vêm a público denunciar as 2.500 demissões feitas pela Embraer. Depois do fracassado acordo com a Boeing, a empresa quer descarregar nas costas dos trabalhadores o custo do desastre que a própria direção da empresa causou. 

A Embraer recebeu milhões de reais em recursos do BNDES e, no entanto, não garante o emprego dos trabalhadores, demitindo em massa em plena pandemia.

Estamos juntos com os trabalhadores e trabalhadoras da empresa na sua luta em defesa dos empregos e exigimos o imediato cancelamento das demissões.

Conclamamos todos os setores democráticos a se somarem nesta luta vital para a soberania do país.

São Paulo, 14 de setembro de 2020

Sérgio Nobre – Presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores

Miguel Torres – Presidente da Força Sindical

Ricardo Patah – Presidente da UGT – União Geral dos Trabalhadores

Adilson Araújo – Presidente da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

José Calixto Ramos – Presidente da NCST – Nova Central Sindical de Trabalhadores

Alvaro Egea – Secretário geral da CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros

Atnágoras Lopes – Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas

Nilza Pereira de Almeida – Secretária de Finanças da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora

Ubiraci Dantas Oliveira – Presidente da CGTB – Central Geral dos Trabalhadores do Brasil

Emanuel Melato – Coordenação da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora

José Gozze – Presidente da PÚBLICA, Central do Servidor


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