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Silêncio na Sé, cruzes na escadaria: centrais lembram vítimas e criticam governo

Sindicalistas voltaram a cobrar impeachment de Bolsonaro. “Momento de oração e indignação”, disse o padre Júlio Lancelotti

Jaélcio Santana/FS
Jaélcio Santana/FS
Sindicalistas na Sé: parte das mortes poderia ter sido evitada

São Paulo – Com um minuto de silêncio quase no final, representantes das centrais sindicais concluíram ato na Praça da Sé, região central de São Paulo, para homenagear as vítimas da covid-19 e responsabilizar o governo pela extensão da crise. A manifestação, no início da tarde desta sexta-feira (7), foi rápida e simbólica. Com máscaras, os dirigentes se posicionaram na escadaria que dá acesso à entrada principal da catedral. Ali também foram postas cruzes com as inscrições “Fora bolsonaro” e “100 mil mortes”.

O número faz alusão à quantidade de óbitos que poderá ser alcançada oficialmente hoje, em razão da pandemia. Para o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, este é um momento de “oração e indignação”. Contra um governo hostil a trabalhadores, povos indígenas , quilombolas, comunidade LGBT, “os mais pobres, os desempregados, que cria um auxílio emergencial que não chega ao povo da rua”. E pediu solidariedade: “É uma dimensão humana, não é religiosa”.

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, reafirmou que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas com políticas adequadas e isolamento efetivo. Segundo ele, há projeções que poderão chegar a 180 mil. “Podemos atingir a triste marca de país campeão mundial de mortes”, lamentou. “Nem ministro da Saúde a gente tem nessa tragédia”, acrescentou, ao defender o afastamento imediato do presidente da República.

Caminho do desenvolvimento

A CUT foi uma das entidades que encaminharam pedido formal de impeachment ao Congresso. Para o sindicalista, Jair Bolsonaro deveria ter “humildade e grandeza” para renunciar. Sua saída, acrescentou, é “condição fundamental para esse país retomar o caminho correto, do desenvolvimento”.

Ele ainda pediu aplausos para trabalhadores da saúde. Assim com o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, o cutista afirmou que governadores e prefeitos que implementarem volta às aulas seriam tão “genocidas” quanto o presidente da República.

Miguel, por sinal, perdeu ontem (6) a própria mãe, Dejanira, mais uma vítima da covid-19. Ele afirmou que muitos morreram “pela irresponsabilidade do presidente da República, que não enfrentou a doença como deveria”. As experiências de outros países poderiam ajudar, “mas nosso presidente virou as costas”.

Na mesma tempestade

Ao lembrar que nem todos têm as mesmas condições de tratamento, Miguel refutou os que dizem que todos estão “no mesmo barco”. “Estamos na mesma tempestade” afirmou. Ele defendeu uma “pauta de enfrentamento com responsabilidade, com a ciência”. Cobrou manutenção do auxílio emergencial no valor de R$ 600 pelo menos até dezembro e criação de duas parcelas extras do seguro-desemprego. “Até outubro, a crise vai estar muito mais profunda.”

“O Brasil está sem comando”, disse o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira. Ao lembrar de momentos de resistência contra a ditadura, ele afirmou que “não vai ser um capitãozinho que vai impedir nosso povo de viver com dignidade, com direitos , emprego e salários”. Pouco depois, Atnágoras Lopes, da CSP-Conlutas, lamentou que não tenha sido implementada uma quarentena de 30 dias, com renda básica. “Não estava essa dor tamanha.”

O presidente da CTB, Adilson Araújo, fez referência a declaração feita ontem por Bolsonaro. “Como é que nós podemos tocar a vida, diante de um desgoverno que não tem atenção para o seu povo?”, reagiu, citando ainda uma medida adotada ainda no início da pandemia. “A preocupação de bolsonaro e do medíocre ministro da Economia foi destinar 17% do PIB para socorrer os banqueiros.” Enquanto isso, acrescentou, as pessoas continuam sofrendo para receber o auxílio emergencial.

Após liderar passeata vinda da Rua 25 de Março, tradicional ponto de comércio popular da cidade, o presidente da UGT, Ricardo Patah, lembrou de acontecimentos relevantes na Sé, como a missa em memória do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Ele afirmou que a economia está “em frangalhos” e chamou o governo de “criminoso”, empenhado em “acabar com os trabalhadores”. A central participou de denúncia contra Bolsonaro encaminhada ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.