Medo

Motoristas de ônibus em São Paulo têm 131 casos de covid-19 confirmados e temem crescimento

Número de mortes chega a 35, embora a maior parte ainda aguarde resultado de exames. Sindicato receia que mudança no rodízio possa ter provocado mais casos

Sind. Motoristas SP
Sind. Motoristas SP
Categoria está exposta no dia a dia. E mudança no rodízio pode ter piorado a situação

São Paulo – Com pelo menos 131 casos de covid-19 confirmados, o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo teme crescimento das ocorrências na categoria. O número de mortes chega a 35 – destas, 26 aguardam resultado de exames. Um dos motivos de preocupação foi a mudança no rodízio na capital, duas semanas atrás, que deixou os ônibus lotados, aumentando a possibilidade de contágio tanto dos trabalhadores como dos usuários.

Balanço do sindicato aponta, além dos 131 confirmados, 520 casos considerados suspeitos. “A cidade de São Paulo é o epicentro do coronavírus no país e, por exercermos uma atividade responsável por transportar milhares de pessoas diariamente, fazemos parte do grupo mais exposto”, diz o presidente da entidade, o deputado federal Valdevan Noventa (PSC-SE).

Segundo ele, a presença nas garagens foi intensificada, para reforçar a necessidade de uso de máscara e álcool gel – o sindicato obteve liminar na Justiça do Trabalho para garantir o fornecimento desses itens. Noventa também lembra dos impactos na economia. “De um lado existem todas as preocupações pela garantia da saúde, bem-estar e vida, a estabilidade financeira, o emprego, o sustento e a dignidade das pessoas, que estão entrando em condições de vulnerabilidade, ou agravando.”

Ele lembra que foi feito um acordo envolvendo empresas e setor público para manutenção de emprego na categoria, formada por aproximadamente 60 mil trabalhadores, entre motoristas, cobradores, fiscais e funcionários na área de da manutenção. Parte foi afastada, com redução salarial. O que leva a outra situação: muitos têm “ansiedade” de voltar à ativa, “para poder receber integralmente seus salários, honrar suas despesas e colocar o alimento em suas casas”.

Crítica ao rodízio

Entre os casos confirmados, 48 foram na região sudeste e 47, na leste. Foram registradas ainda 24 casos na região sul, nove na oeste e três na norte. Dos 35 óbitos, foram 12 na região leste, 10 na oeste, nove na sul, três na sudeste e um na norte.

Apenas uma empresa, que opera na região sudeste da capital, teve 48 casos confirmados. “Não podemos afirmar quais as razões específicas”, diz Noventa. “Por se tratar de uma contaminação viral, acreditamos que os usuários não tenham seguido à risca as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Infelizmente, sabemos que não todas as pessoas que têm consciência e responsabilidade consigo e com o próximo.”

O sindicato faz uma avaliação crítica da mudança no sistema de rodízio implementada – e logo revogada – pela prefeitura da capital. Para a entidade, foi uma medida sem eficácia, porque se diminuiu o número de carros acabou provocando superlotação do transporte público. “Com isso, a preocupação e o medo dos trabalhadores aumentaram, evidentemente. Vamos aguardar o período estimado de contaminação e compararmos se houve um aumento dos casos na categoria”, afirma Noventa. “Felizmente o sistema de rodízio foi suspenso, caso contrário já estávamos preparados a requerer o aumento da frota.”

A São Paulo Transporte (SPTrans), que gerencia o sistema na cidade, disse que a prefeitura “adotou uma série de medidas” para prevenção de motoristas, cobradores e passageiros. Cita o uso de máscara, a vacina contra influenza e “o reforço de cuidados pessoais, como lavagem das mãos a cada viagem”.

“Como medida de prevenção, as empresas estão autorizadas a usar cortinas em formato de ‘L’ nos postos dos motoristas para evitar o contágio pelo novo coronavírus.  A SPTrans também sinalizou a distância de 1 metro entre os usuários nas plataformas para aguardar o embarque nos terminais.A equipe técnica acompanha o movimento dos passageiros e adequa a frota de ônibus para atender à demanda da população”, diz ainda a companhia, acrescentando que informações sobre linhas, postos e recomendações estão no www.sptrans.com.br/covid-19.

A SPTrans lembrou que a Secretaria Municipal da Saúde “não divulga informações sobre casos específicos de pacientes, sejam eles suspeitos ou confirmados, de infecção por coronavírus” . Até ontem (24), havia 49.306 casos confirmados e 166.603 suspeitos. As mortes somavam 7.022 – 3.351 confirmadas e 3.671 ainda consideradas suspeitas.

“Como qualquer cidadão, os trabalhadores do transporte estão com medo de serem contaminados pelo coronavírus. São eles quem transportam os trabalhadores da saúde, os usuários dos postos e hospitais, os profissionais que atuam no comércio, na limpeza e assim por diante”, afirma Noventa



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