Vulneráveis

Trabalhadores da saúde em São Paulo recebem de Covas máscara de proteção de baixa qualidade

Modelo entregue pela gestão Bruno Covas é feito de um material muito mais fino que o comum, o que diminui a proteção contra o coronavírus

Sindsep
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À esquerda, a máscara de proteção normalmente utilizado nas unidades de saúde. À direita o novo modelo

São Paulo – As máscaras de proteção entregues hoje (15) para os trabalhadores da saúde pelo governo do prefeito Bruno Covas (PSDB) são de baixa qualidade, feitas de um material muito mais fino que os das máscaras normalmente utilizadas na rede de saúde, denuncia o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep). O material, da marca Bompack, vem sendo entregue nas unidades desde o início da semana.

Servidores tiraram fotos comparando os modelos e a diferença de espessura entre os modelos é significativa. “Não sei se é melhor trabalhar com ou sem essa máscara. Isso é um cala-boca da prefeitura, para dizer que está protegendo os profissionais de saúde. É vergonhoso oferecer esse material no meio dessa situação”, relatou uma trabalhadora da saúde que pediu para não ser identificada.

O Sindsep vem denunciando a falta de EPI para os trabalhadores da saúde, que acabam sendo obrigados a reaproveitar parte dos equipamentos, utilizar sacos de lixo como avental, atuar sem máscara de proteção, entre outros problemas, no atendimento a pacientes suspeitos ou confirmados de coronavírus – colocando suas próprias vidas em risco. Além de máscaras, faltam luvas, álcool em gel, protetores faciais, toucas cirúrgicas e demais itens de proteção para o corpo. Aventais e macacões impermeáveis não têm sido recebidos em número suficiente para estes profissionais.

Pesquisa realizada pelo sindicato revelou que 62% dos trabalhadores da saúde afirmam não ter acesso à máscara do tipo N95, e ainda enfrentam a falta de máscaras de proteção (52%). Além disso, não há álcool para 70% dos profissionais e avental, para 30%. Ao mapear as condições de segurança de trabalho, a pesquisa mostrou que a possibilidade de contaminação é ainda maior para os servidores do grupo de risco da covid-19, que são quase um terço dos funcionários públicos, considerando apenas aqueles que têm 60 anos ou mais.

Na avaliação do Sindsep, a falta de equipamentos adequados de proteção está diretamente ligada ao aumento do afastamento de trabalhadores da saúde. Apenas na segunda quinzena de março, o serviço de saúde da capital paulista perdeu 559 trabalhadores, por diversos motivos de saúde. Não há informações sobre casos de coronavírus entre os profissionais de saúde afastados, mas o aumento do número de licenças bate com o período de avanço da epidemia em São Paulo.

Considerando apenas os 11 hospitais geridos pela Autarquia Hospitalar Municipal (AHM), foram 154 servidores da saúde afastados no período. Os dados foram organizados pelo Sindsep e se referem aos hospitais municipais, prontos-socorros, Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) e a sede da autarquia.

A situação também pode estar ligada à morte de, ao menos 16 trabalhadores da saúde pela covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Segundo a direção do Sindsep, as informações foram coletadas por meio dos registros de colegas, amigos e familiares, nas redes sociais e em veículos de imprensa. No último domingo, trabalhadores protestaram na Avenida Paulista, exigindo melhores condições de trabalho para a categoria, EPI em quantidade suficiente para as equipes e disponibilidade de testes para confirmação de casos de coronavírus entre os trabalhadores.


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