Memória

Morre Gilson Menezes, líder de uma greve que marcou retomada do sindicalismo

Ele comandou a paralisação dos operários da Scania, de São Bernardo, em 1978. Também foi prefeito de Diadema

Reprodução Facebook
Reprodução Facebook
Gilson em 2012. Líder sindical, fez carreira política em Diadema, como prefeito

São Paulo – A greve dos trabalhadores na Scania, em São Bernardo do Campo, surpreendeu o país naquele 12 de maio de 1978. O Brasil ainda estava sob ditadura, que iria ainda até 1985. “Cheguei no sindicato no dia 11 e falei para alguns companheiros que a Scania pararia no dia seguinte. Acharam que era loucura. E era mesmo“, lembrou, anos atrás, o metalúrgico Gilson Menezes, um dos líderes daquele movimento. Duas vezes prefeito de Diadema, também no ABC paulista, ele morreu neste domingo (23), aos 70 anos.

Foi uma greve que contribuiu para a retomada da democracia no Brasil, conforme lembrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comandava o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (atual ABC) na época da paralisação na Scania. Logo, o movimento se espalhou e continuou, entre o final dos anos 1970 e início dos 1980.

As greves dos anos seguintes na região do ABC, por melhores salários e condições de trabalho, se confundiram com as reivindicações por liberdade civil, eleições diretas, anistia, que começavam a tomar conta das ruas. Na greve de 1980, Lula e Gilson, entre outros, foram presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN).

Baiano de Miguel Calmon, Gilson Luiz Correia de Menezes chegou ainda criança a Diadema. Um dos fundadores do PT, foi o primeiro nome do partido a se eleger para o Executivo, justamente a cidade do ABC, em 1982. Foi reeleito. Mais tarde, seria vice-prefeito, pelo PSB, na gestão de Mário Reali (PT). Também foi deputado estadual.

Com problemas renais, Gilson estava em Santa Catarina para tentar um transplante. O corpo será velado na sede da Câmara Municipal de Diadema, em horário a ser definido.

A administração de Gilson Menezes iniciada em 1982 foi um laboratório de participação popular. Experiências como o orçamento participativo, que acabariam se tornando referências universais de gestão petista após a conquistas de grandes capitais – como Fortaleza em 1985 e São Paulo e Porto Alegre em 1988 –, começaram ali.

Diadema era até então “patinho feio” do ABC paulista. Ao lado de Mauá, era no final dos anos 1970 sinônimo de periferia e território de pobreza, de marginalização social e de crescimento urbano acelerado e desengonçado. Alvos, inclusive do preconceito das classes médias mais abastadas que se formavam em volta, sobretudo em São Bernardo e Santo André, graças, quem diria, às lutas operárias.

Dos sete municípios do Grande ABC, apenas São Caetano do Sul – cidade que desde a fundação tem os menores índices de carências do país – não teve um prefeito petista. Diadema, por seu lado, pode ter sua história dividida entre antes e depois de Gilson Menezes.


Leia também


Últimas notícias