Incerteza

Metalúrgicos da Embraer fazem protesto contra demissões

Fábrica de São José dos Campos vai parar a partir da semana que vem. Sindicato teve cortes com o processo de transição envolvendo a Boeing

Sind. Met. SJC
Sind. Met. SJC
'Trabalhadores não merecem esse pacote de Natal', diz sindicato, que cobra compromisso da Embraer e da Boeing com a sociedade

São Paulo – Em protesto contra demissões e às vésperas do recesso de fim de ano, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, no interior paulista, fez nesta quinta-feira (19), das 5h40 às 6h20, aproximadamente, protesto na entrada do primeiro turno da Embraer, que segundo a entidade atrasou em 40 minutos o início da produção. “Na fábrica, o clima é de apreensão com a proximidade das férias coletivas, marcada pela empresa para dar início ao processo de transição para a Boeing”, diz o sindicato.

O processo que envolve a companhia norte-americana e a empresa brasileira na aviação comercial está paralisado porque a comissão antitruste da União Europeia pediu informações adicionais. Com isso, a expectativa é de que a conclusão ocorra apenas em março, segundo afirmou em novembro, durante apresentação de resultados, o vice-presidente de relações com investidores da Embraer, Nelson Salgado.

Os metalúrgicos lembram que a fábrica entrará em recesso na próxima segunda-feira, e terá férias coletivas de 6 a 19 de janeiro. “O temor por uma eventual demissão em massa atinge todos os setores da fábrica, tanto dos trabalhadores que permanecerão na Embraer quanto daqueles que passarão para a Boeing”, diz o sindicato. “Somente este mês já foram demitidos cerca de 300 trabalhadores, especialmente da aviação executiva – área que continuará com a Embraer após a venda da empresa para a Boeing.”

“Os trabalhadores não merecem esse pacote de demissões no Natal. A manifestação foi, principalmente, para mostrar a insatisfação dos trabalhadores e expor a falta de compromisso da Embraer e Boeing com a sociedade”, afirmou o diretor do sindicato Herbert Claros. “Exigimos que o poder público se manifeste contra a entrega da Embraer, que representará para o país a perda de tecnologia, soberania e empregos.”

A Boeing também enfrenta turbulência nos Estados Unidos. Recentemente, a empresa foi questionada durante audiência na Câmara dos Deputados norte-americana, depois de dois acidentes com um mesmo modelo que terminaram com 356 mortes. “Depois de uma primeira análise, os reguladores revelaram dúvidas sobre o impacto para a competição num mercado em que a maior empresa de aviação comercial (Boeing) do mundo engolira a líder da aviação regional (Embraer)”, observa a jornalista Maria Cristina Fernandes em sua coluna no Valor Econômico.

“Num país que nunca teve um carro de padrão internacional para chamar de seu, mas foi capaz de fazer um avião, a Embraer é considerada a fronteira mais avançada da tecnologia tupiniquim”, acrescenta a jornalista, lembrando que 5,2 mil dos 18 mil funcionários da empresa são engenheiros. “O time de engenheiros que a lidera será dividido entre a Boeing Brasil e a Embraer S.A, mas a alienação do controle tirou da empresa nacional decisões estratégicas sobre os projetos a serem desenvolvidos.”