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Lógica do mercado transforma o trabalho em sofrimento mental

Livro mostra como o mercado de trabalho violento, incoerente e com maior ocupação do tempo leva os trabalhadores ao adoecimento psíquico

Cavan Images/Getty Images
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Mercado de trabalho impõe sofrimento aos trabalhadores e atua de forma incoerente ao exigir experiência e não remunerar a mesma

São Paulo – “Desde o começo da vida ativa do trabalhador, o trabalho aparece como um sofrimento. Seja quando a pessoa passa por um processo seletivo ou precisa buscar o trabalho muito nova para conseguir ajudar em casa, ele aparece como uma imposição, como uma violência”. Esse é o primeiro diagnóstico sobre o mercado de trabalho destacado pela relações públicas Thatiana Cappellano, co-autora do livro Trabalho e Sofrimento Psíquico – Histórias que Contam essa História, em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Nahama Nunes, para a Rádio Brasil Atual. A pesquisa entrevistou 80 trabalhadores de vários níveis e setores e revela que o sofrimento psíquico no mercado de trabalho independe do nível hierárquico e pesa mais sobre os trabalhadores informais.

Entre os achados, a autora destaca como a incoerência do mercado de trabalho sobre as exigências de currículo e o salário pago pelo trabalho abalam os trabalhadores. “O mercado exige pessoas bem formadas quando, em princípio, ele não remunera por essa formação. Os trabalhadores informais têm uma renda menor e não têm como investir em sua própria formação. Eles entram em um ciclo que o próprio mercado faz com que eles permaneçam nessa situação. E o mercado fica exigindo qualificação. Mas, do outro lado, quem tem qualificação não consegue emprego porque o mercado diz que ele é caro demais”, comentou.

Outro problema destacado no livro é a falta de organização e a dificuldade dos trabalhadores em se preocupar com algo além da sobrevivência cotidiana. Thatiana ressalta que as pessoas estão trabalhando cada vez mais, como parte de uma lógica do mercado de trabalho de ocupar o tempo do trabalhador ao máximo possível.

“Ocupando esse tempo o máximo possível elas não conseguem se organizar e se articular. Isso vai enfraquecendo qualquer possibilidade de reagir ao sistema. A situação em que o trabalho e os trabalhadores se encontram é tão conflituosa que ela nem permite pensar no amanhã. Ouvimos de uma menina jovem, mãe de quatro filhos, moradora da periferia: ‘eu preciso tirar da boca para pagar o aluguel’. Que é uma realidade que a gente sabe que existe. Quando a gente pergunta a uma pessoa dessa se ela acompanha o cenário político, as coisas que estão acontecendo, ela diz ‘não, eu preciso pensar em comer hoje’”, relatou.

O livro de Thatiana Cappellano, em co-autoria com Bruno Carramenha, está disponível gratuitamente para download, clicando aqui.

Confira a entrevista completa:

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