São Bernardo

Metalúrgicos foram fundamentais em acordo para a fábrica da Ford no ABC

Em cenário de crise, preservação dos empregos é importante não apenas para os trabalhadores, mas para o funcionamento de toda a economia

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
"Está no DNA dos sindicatos defender os trabalhadores, mas que também agem sempre pensando no conjunto da sociedade", diz o presidente da CNM

São Paulo – Nesta terça-feira (3), foi assinado o termo de compromisso para a compra da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo (SP), pelo grupo Caoa. O prazo para a efetivação do processo é de 45 dias. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) foi um dos principais atores na busca por alternativas que garantissem a preservação dos empregos desde que a montadora norte-americana anunciou, em fevereiro, a sua saída do país. Os representantes dos trabalhadores negociam para que os demitidos da Ford sejam contratados pela nova empresa.

“O sindicato está desde a primeira hora construindo essa alternativa. Não foi construída apenas no diálogo. Fizemos atos dentro da fábrica, fora da fábrica. Ocupamos as ruas de São Bernardo do Campo, e chamamos as autoridades para as suas responsabilidades”, afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual nesta quarta-feira (4).

Cayres, que também é vice-presidente do SMABC, disse que a atuação em defesa do emprego é uma “obrigação” dos sindicatos, mas também lembrou que é preciso que trabalhadores se sindicalizem para fortalecer as entidades representativas com condições de atuar em momentos como esse.

“Não é filantropia. É obrigação. Só que essa obrigação tem que vir amparada pelos trabalhadores, que tem que se sindicalizar e fortalecer as suas entidades. O resultado está aí nessa negociação. Não fechou ainda, mas estamos perseguindo esse acordo, fazendo o nosso papel. Se a Ford quer ir embora, é um problema dela. Mas nós queremos que a fábrica continue funcionando, não importa com qual nome, porque nós queremos que os trabalhadores continuem empregados. Essa é a principal ação do nosso sindicato”, afirmou.

Ele destacou que a mídia tradicional, que é majoritariamente contra a organização dos trabalhadores, tenta esconder a participação das entidades. “É fundamental registrar para a sociedade que o principal ator que possibilitou que se chegasse a esse termo chama-se sindicato. Não só o SMABC, mas os sindicatos em nível nacional sempre buscam a construção através do diálogo, e também do enfrentamento, quando necessário, para defender a manutenção dos postos de trabalho, ainda mais num país com mais de 12 milhões de desempregados.”

O virtual fechamento da planta da Ford traria impactos não apenas para os trabalhadores demitidos, mas também à economia local, afetando inclusive as arrecadações do município e do estado. Por conta da complexidade da cadeia automobilística, impactos seriam sentidos até mesmo fora dos limites paulistas. Segundo Cayres, estariam em risco empregos na fábrica da empresa Flama, na cidade mineira da Pouso Alegre, que produz as cabines para os caminhões produzidos em São Bernardo.

“Esse tipo de ação do sindicato não é nocivo para ninguém. Nem para o estado, nem para os empresários. E fundamentalmente é positiva para os trabalhadores. Está no DNA dos sindicatos defender os trabalhadores, mas que também agem sempre pensando no conjunto da sociedade”, disse o dirigente.

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