Criador da moderna indústria automobilística, Henry Ford ‘deixa’ fábrica do ABC
Busto do empresário norte-americano será levado da fábrica de São Bernardo, que está em processo de venda, para Taubaté, no interior paulista
Publicado 27/09/2019 - 19h24
São Paulo – Considerado o criador da moderna indústria automobilística, com o sistema de produção em massa de veículos, o empresário norte-americano Henry Ford (1863-1947) deixa simbolicamente a fábrica da montadora em São Bernardo do Campo, região do ABC paulista. Um grupo de metalúrgicos posou na manhã desta sexta-feira (27) próximo ao busto de Ford, que fica no Prédio 32 da fábrica, área administrativa. O ex-presidente e atual diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Rafael Marques informou que o busto será levado para a fábrica da Ford em Taubaté, no interior paulista, onde são produzidos motores, transmissões e componentes.
É mais um passo do fim das atividades da Ford na região do ABC, iniciadas em 1967, com a aquisição da Aero-Willys. Em 19 de fevereiro deste ano, a montadora anunciou o fechamento da fábrica, alegando tratar-se de uma estratégia global. Os trabalhadores fizeram uma série de manifestações, e uma representação chegou a ir aos Estados Unidos para tentar convencer a direção mundial da Ford a manter a unidade. Em abril, foi aprovado um acordo prevendo indenização aos funcionários, com participação nos lucros ou resultados (PLR), plano de demissões, assistência psicológico e cursos de qualificação profissional, entre outros itens.
No dia 4 deste mês, durante evento no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual paulista, foi feito o anúncio da intenção de compra da fábrica pelo grupo Caoa. A cerimônia teve a presença do governador João Doria e do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, ambos do PSDB. A previsão é de que a negociação seja concluída em 45 dias. Sindicalistas também têm se reunido com a Caoa para discutir detalhes da contratação de funcionários.
Mais de mil funcionários deixaram a Ford desde o anúncio do fechamento. Inicialmente, em torno de 300 trabalhadores decidiram sair, e posteriormente por volta de 750 operários foram embora, depois do encerramento da produção do Fiesta. A unidade produz caminhões, que continuarão sendo fabricados em São Bernardo – a Caoa avalia que pode voltar a produzir automóveis no local. “Esperamos que na evolução dessas negociações, mais trabalhadores possam ser contratados, além desses 800 iniciais que são necessários para a produção de caminhões”, afirmou no dia 4 o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Wagner Santana, o Wagnão.
“Fizemos várias conversas com o governo do estado, com a prefeitura e com a própria Caoa. Assim que soubemos da intenção de compra, imediatamente buscamos os representantes para discutir a recontratação e os direitos dos trabalhadores, também tratamos sobre salários e convenção coletiva. Normalmente essas empresas poderiam não aproveitar nenhum trabalhador e contratar no mercado com salários inferiores, mas nós garantimos que isso não ocorra”, acrescentou o dirigente.
A “saída” de Ford marca um momento simbólico no processo de reestruturação que envolve os metalúrgicos, cujo sindicato continua apresentando propostas para acompanhar as mudanças na atividade industrial.