Memória

Metalúrgicos do ABC celebram 60 anos. Cinquenta com Lula

Sindicato comemora seis décadas com apresentações musicais e ato político em defesa do ex-presidente, que entrou na diretoria em 1969 e esteve à frente da entidade durante seis anos

Reprodução SMABC

Greve dos metalúrgicos em 1980 teve 41 dias de duração. Sindicato sofreu intervenção e diretoria foi cassada

São Paulo – “O sindicato não é um prédio”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, enfatizando o simbolismo histórico da entidade, que neste sábado (11) celebrará 60 anos de existência, completados no dia seguinte. A assembleia de fundação da entidade, ainda como associação, ocorreu na sede do Sindicato dos Marceneiros de São Bernardo do Campo, com 71 trabalhadores. Dez anos depois da fundação, em 1969, um torneiro-mecânico da extinta Villares – onde entrara em 1966 – assumiria seu primeiro mandato sindical, ainda como suplente do conselho fiscal: Luiz Inácio da Silva, o Lula

O evento marcado para amanhã, a partir das 14h, terminará justamente com um ato político em defesa da libertação do ex-presidente da República, que dirigiu o sindicato de 1975 a 1981. A atividade inclui ainda várias apresentações musicais, intercaladas com oradores de partidos e movimentos sociais.

A origem da organização sindical metalúrgica no ABC é de 1933. Naquele ano, foi criado o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, que representa os trabalhadores das sete cidades que formam a região – Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Inicialmente, formavam um único município. Os sete concentram atualmente em torno de 2,5 milhões de habitantes.

Com a chegada das montadoras de veículos, na segunda metade dos anos 1950, o panorama do setor econômico e industrial começou a mudar na região. A base sindical se desmembrou, dando origem aos sindicatos de São Bernardo/Diadema e de São Caetano. 

O primeiro presidente do recém-criado sindicato de São Bernardo e Diadema foi o ferramenteiro Lino Ezelino Carniel, que morreu em 2015, aos 85 anos. Em 1969, a categoria elegeu a quarta diretoria, com Paulo Vidal, da Molins, na presidência. Ele seria reeleito três anos depois, em disputa acirrada, com duas chapas – a outra era liderada por Luciano Garcia Galache, da Ford.

Juca Martins
Lula discursa no estádio de Vila Euclides, em 1979. Foto de Juca Martins foi arrematada por R$ 20 mil no Leilão Lula Livre

Primeira eleição

O jovem Lula foi “assediado” por ambos os concorrentes, mas ficou com a situação. Como já contou várias vezes, no início ele não se interessava pela participação na vida política-sindical. Filiou-se ao sindicato por insistência de seu irmão José Ferreira da Silva, o Frei Chico, militante do PCB. Diretor responsável pela área de previdência e viúvo na época, em 1973 Lula conhece Marisa Letícia, também viúva. Casariam no ano seguinte. 

Para substituir Paulo Vidal, em 1975, havia três nomes na disputa, mas eles abriram mão em favor de Lula, que encabeçou a chapa única, vencedora com 97,5% dos votos válidos. Três anos depois, o cenário se repetiu.

A ditadura se aproximava do fim, mas a linha-dura ainda resistia. A partir de 1978, os metalúrgicos se destacariam pelo movimento por reajuste salarial e mudanças na estrutura sindical, confundindo-se com a própria luta pela volta da democracia. Neste domingo, completam-se também 41 anos da paralisação na Scania, em São Bernardo, “marco zero” das greves na região, que se espalhariam nos anos seguintes. Em 1980, por exemplo, o sindicato sofreu intervenção e a diretoria foi cassada. Alguns dirigentes foram presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional, Lula entre eles.

“Queremos comemorar ao lado dos verdadeiros responsáveis por esta trajetória”, afirma Wagnão. “O sindicato não seria a referência mundial que é hoje na defesa da classe trabalhadora e da democracia não fossem os companheiros que construíram e ainda constroem essa história no dia a dia das fábricas”, acrescenta, enfatizando a importância do ato em defesa do ex-presidente. “Lula é a maior referência da nossa história e hoje ele é um preso político, justamente por ter conduzido sua vida em prol dessa categoria e dos trabalhadores deste país.”

A edição de hoje (10) da Tribuna Metalúrgica, jornal do sindicato, traz um Bilhete do João Ferrador. Ele foi um personagem criado nos anos 1970 pelo jornalista Antônio Carlos Félix Nunes para mandar recados à categoria e ao governo.

Para o ato de amanhã, um palco está sendo instalado no lado externo do sindicato. A entidade confirma apresentações de Ana Cañas, Grazzi Brasil, Mariana Moraes, Aline Calixto, Almirzinho e Dexter, além das bandas Aláfia, Favela Pesada e Comunidade do Samba.

No ato político, são esperados, entre outros, o ex-candidato à Presidência Guilherme Boulos (Psol), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Gilmar Mauro, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e o ex-prefeito e ex-candidato Fernando Haddad, que encerrará a Caravana Lula Livre, iniciada em Vitória

Ouça também reportagem da Rádio Brasil Atual

 

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