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Editora Abril mantém calote aos demitidos. Família Civita segue bilionária

Empresa segue aplicando calote nos funcionários demitidos em 2018, sem efetuar o pagamento de nenhuma indenização trabalhista devia aos 1.254 ex-colaboradores

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Demitido da Editora Abril, que sofreu calote em indenização, exibe carteira de trabalho com 41 anos de trabalho à empresa

São Paulo – Cerca de 200 trabalhadores, entre jornalistas, gráficos e administrativos, realizaram uma manifestação exigindo o pagamento dos direitos trabalhistas de 1.254 trabalhadores demitidos em julho do ano passado. O ato teve início na frente da Editora Abril, depois marchou pela Avenida Marginal Tietê até a sede da Polícia Federal, na Lapa, região oeste da cidade.

A manifestação, na quarta-feira (8), reuniu os demitidos que sofreram calote do Grupo Abril com os gráficos da multinacional RR Donnelley, que também tiveram seus direitos trabalhistas subtraídos quando a gráfica pediu autofalência e fechou suas unidades no Brasil em 1º de abril desse ano.

O calote da Abril somava cerca de R$ 90 milhões quando a família Civita, dona da editora, tramou as demissões enquanto planejava entrar em processo de recuperação judicial. A empresa que mantém publicações como Veja e Exame – “especialistas” em ditar aos governos rumos para a economia brasileira – rendeu a seus antigos proprietários fortuna estimada em US$ 7,8 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) segundo ranking divulgado pela Forbes. ano passado. Na lista de 2014, eram US$ 3,3 bilhões.

Menos de 1% desse valor seria suficiente para pagar todos os 1.254 demitidos, conforme denunciou a carta de apoio aos demitidos, assinada por 243 ex-profissionais da empresa. O Ministério Público do Trabalho já denunciou que, entre 2013 e 2017, os acionistas receberam da Editora Abril quase R$ 118 milhões. E também ganharam com a venda da Abril Educação, em 2015, negócio de aproximadamente R$ 1,3 bilhão.

Na manifestação, os participantes se concentraram na sede da empresa, onde expressaram sua indignação pelo fato de a empresa não pagar as verbas trabalhistas às quais têm direito, mesmo tendo recursos para isso, e que deveriam ter sido quitadas na íntegra há nove meses. E homenagearam dois ex-colegas que morreram antes de conseguir ter os direitos pagos: os jornalistas Fábio Sasaki e Dagmar Serpa.

Em seguida, os trabalhadores fizeram uma passeata pela Marginal do Tietê até a ponte do Piqueri, chegando ao prédio da Polícia Federal, onde foi protocolado documento a respeito da saída da RR Donnelley do Brasil, com pedidos de investigação por parte dos órgãos responsáveis e de tomada de providências contra a multinacional, visando garantir o pagamento dos direitos trabalhistas.

Foi também incluída no ofício a demanda dirigida ao ministro da Justiça, Sergio Moro, da elaboração de um projeto de lei que criminalize o calote de verbas rescisórias em casos de comprovação de que o grupo empresarial ou seus sócios possuem patrimônio para quitar essas verbas de caráter alimentar.

A RR Donnelley era a gráfica que imprimia as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A empresa pediu autofalência no início de abril. E cerca de mil funcionários foram dispensados sem o pagamento de suas indenizações. No entanto, a multinacional teve faturamento global de US$ 6,8 bilhões, em 2018.

A Editora Abril apresentou uma nova proposta de pagamento aos trabalhadores demitidos, que está sendo analisada hoje, em conjunto com o Sindicato dos Jornalistas.