Futuro da fábrica

Em dia decisivo, trabalhadores da Ford do ABC fazem assembleia

Na manhã desta terça, metalúrgicos farão relato da reunião realizada na semana passada nos Estados Unidos

Adonis Guerra/SMABC

Passeata pelo centro de São Bernardo, na semana passada: metalúrgicos aguardam relato sobre reunião nos EUA

São Paulo – Os trabalhadores na Ford de São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, fazem assembleia nesta terça-feira (12) a partir das 7h, na entrada do turno, e saberão detalhes da reunião realizada na semana passada nos Estados Unidos, que discutiu o futuro da fábrica, ameaçada de fechamento ainda este ano. Representantes dos metalúrgicos conversaram com a direção mundial da montadora, que comanda um processo de reestruturação global e deve priorizar a produção de SUVs e picapes. A portaria onde será realizada a assembleia teve de ser alterada em função da chuva.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Ford não divulgaram detalhes do encontro realizado na última quinta-feira (7) em Dearborn, onde fica a sede da empresa. Desde que o anúncio do fechamento foi feito, os trabalhadores vêm realizando manifestações, como passeatas por São Bernardo, além de reuniões com autoridades – o prefeito Orlando Morando, o governador João Doria e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

Na semana passada, o governo paulista lançou um programa de incentivos para a indústria automobilística, que prevê desconto de até 25% no ICMS para empresas que anunciarem planos de investimento, com valores mínimos – pelo menos R$ 1 bilhão –, inclusive de criação de postos de trabalho (400, no mínimo). “É uma iniciativa importante”, disse à Rádio Brasil Atual o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, com a ponderação que qualquer política governamental nesse sentido deve ser acompanhada de estratégias de desenvolvimento produtivo e social.

Com a crise da Ford – e também, recentemente, da General Motors –, Clemente observa a retomada de um debate sobre políticas industriais. Ele destaca os “impactos severos” que um eventual fechamento pode ter em toda a economia e na sociedade. E lembra que várias empresas recebem incentivos fiscais, “que muitas vezes não são considerados num momento como este”. 

Com 4.330 funcionários, entre diretos e terceirizados, a fábrica de São Bernardo é a mais antiga da Ford em atividade no país. Começou a funcionar em 1967, comprada da Willys-Overland. Produz um modelo de automóvel (New Fiesta Hatch) e caminhões, cuja produção foi transferida do Ipiranga, em São Paulo, em 2001. Ali já foram fabricados modelos como Corcel, Maverick, Del Rey, Escort e Ka. Hoje, os operários trabalham nas duas linhas de produção.

A notícia sobre a Ford provoca impacto em uma ampla rede de fornecedores, que se preocupam com o futuro de suas próprias atividades. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, no interior paulista, a empresa Dana já informou que reduzirá a produção, em até 30%, conforme o setor. A indústria pode, inclusive pedir ressarcimento à montadora pelo investimento feito na fábrica para atender à demanda. Outras empresas da base, como Metalac e Bosch, apontaram efeitos diretos com a decisão da Ford. Mas, no segundo caso, a empresa diz ver “oportunidades de intensificação do relacionamento com outros clientes”.

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