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Operador de trem da Linha 15-Prata foi um herói, diz metroviário

Dois trens do monotrilho se chocaram na noite de ontem (29) por falha no sistema de comunicação automático das composições. Operador ficou ferido

RBA

Composições M22 e M23 se chocaram na noite de ontem e acidente não foi pior porque operador acionou o freio de emergência

São Paulo – O choque entre as composições M22 e M23 da linha 15-Prata (Vila Prudente/Vila União), do Metrô de São Paulo, só não foi pior por conta da ação rápida do operador de trem. “Ele foi um herói. O trem estava em operação automática, mas ele percebeu que algo estava errado, foi ao console que fica na parte dianteira e precisa ser aberto à chave, e acionou o freio de emergência”, disse o coordenador do Sindicato dos Metroviários Raimundo Cordeiro.

Se não fosse isso, o impacto seria muito maior, podendo até derrubar as composições na rua.” O condutor, que não teve o nome revelado, sofreu contusões no ombro e nas pernas.

Os trens estavam sem passageiros e se chocaram na estação Jardim Planalto, que ainda não está em operação. Segundo os metroviários, o sistema de comunicação dos trens (CBTC) falhou e o trem M23, que estava em movimento, não identificou que havia outra composição parada na estação.

“Esse sistema custou R$ 1 bilhão. Mas foi entregue com muitas falhas a serem corrigidas. Não é seguro. O governo devia investir em tecnologia que melhore a segurança e a operação, que são muitas, e não pensando apenas em eliminar o operador dos trens”, disse Cordeiro.

Segundo o coordenador do Sindicato dos Metroviários, a linha 15-Prata tem erros graves de concepção e abrir sindicância, como anunciou a direção do Metrô na noite de ontem, não vai trazer resultados importantes.

“A sindicância vai apurar se houve erro humano. Não é o caso. A ação humana, inclusive, evitou um problema maior. Precisa abrir estudo de caso, analisar as falhas desde a concepção e corrigir. Temos condições, a equipe técnica do Metrô, de fazer isso sem parar a operação, de forma a não prejudicar a população que precisa do transporte”, afirmou.

Entre os problemas destacados por Cordeiro estão a falta de uma contenção para o caso de abertura das portas no lado oposto ao das plataformas de desembarque, a inexistência de uma passarela para desembarque de emergência entre as estações e o excesso de trepidação das composições.

Os trens operam de forma automática, mas um operador sempre está presente nas composições, como acontece na linha 4-Amarela (Luz/Butantã), concedida à iniciativa privada.

“Se esses problemas não forem corrigidos, poderemos vivenciar uma tragédia muito grave na linha 15. Já houve casos de o trem sair da plataforma com as portas abertas. Fato é que não havia conhecimento suficiente sobre esse sistema, que é o primeiro do Brasil. Em outros países, monotrilhos são usados para demandas pequenas, para fazer interligações curtas. Nunca para uma região densamente habitada como a zona leste”, relatou o metroviário.

Os funcionários sempre defenderam que o modal metrô seria o melhor sistema a ser construído para aquele trajeto, em vez do monotrilho. “Mas os governos do PSDB ignoraram todos os pareceres técnicos. Os problemas atuais são consequências amargas dessa decisão que atendeu interesses escusos. Há indícios de que o problema tenha relação com a inauguração apressada de estações por conta da eleição. Essa situação pode se agravar com o anúncio de redução de investimentos no Metrô no orçamento aprovado pelo novo governador, João Doria (PSDB), para o ano de 2019”, concluiu Cordeiro.

A linha 15-Prata começou a ser construída em 2011 e a primeira previsão de entrega, do trecho entre Vila Prudente e São Mateus, era em 2014. A previsão de custo inicial era de R$ 2,3 bilhões. Hoje, até a estação Iguatemi, que seria metade do percurso até Cidade Tiradentes, o custo já é de R$ 5,2 bilhões.

O trecho até o bairro no extremo leste teve a construção suspensa, sem previsão de retomada. Quatro estações foram inauguradas às pressas, em abril do ano passado, pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), prestes a concorrer à presidência da República: São Lucas, Camilo Haddad, Vila Tolstói e Vila União.