Montadoras

Metalúrgicos cobram Ford sobre futuro no ABC. GM tem reunião

Durante assembleia em São Bernardo, trabalhadores questionaram empresa sobre investimentos e novo produto. Em Taubaté (SP), funcionários fazem greve contra demissões. E a GM quer incentivos fiscais

Adonis Guerra/SMABC

Wagnão na assembleia da Ford, na manhã de hoje: discussões não podem continuar no marasmo

São Paulo – O ano passado foi de recuperação para a indústria automobilística brasileira, com crescimento na produção (6,7%), nas vendas (14,6%) e, em menor escala, do emprego (1,7%). Mas duas das principais empresas do setor começam o ano causando preocupação e mobilizando os trabalhadores. A Ford – que teve assembleia na manhã de hoje (22) em São Bernardo do Campo, no ABC, e greve em Taubaté (SP) – e a General Motors, que se reuniu com representantes dos metalúrgicos e de prefeituras. Na reunião, segundo relatos, a GM negou que sairá do Brasil, mas falou em reestruturação.

Em São Bernardo, a assembleia foi para cobrar a montadora sobre investimentos e o futuro da fábrica do bairro do Taboão, de 1967. “Estamos deixando bem claro que as discussões não podem continuar neste marasmo. O acordo construído em março de 2017, que vale até novembro deste ano, previa todo este período para negociações e até agora não há nada efetivo, nenhuma sinalização por parte da direção”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.

“Hoje a Ford São Bernardo produz apenas o New Fiesta e nenhuma planta se sustenta com um só modelo, ainda mais sendo um veículo que não possui vida longa, como a própria empresa já anunciou. Por isso é urgente retomar essa discussão”, acrescentou o sindicalista, que anunciou uma “mobilização permanente” na fábrica, até 18 de fevereiro, quando está prevista uma reunião com o presidente da companhia no Brasil, Lyle Watters. “Decidimos com os trabalhadores hoje que não vamos aguardar novembro (quando termina o período de estabilidade) chegar, nem mesmo o segundo semestre.”

Segundo Wagnão, os trabalhadores já fizeram sua parte no sentido de “viabilizar” a unidade. Entre aposentadorias e programa de demissões voluntárias (PDV), desde 2017 mais de mil funcionários saíram – atualmente, a fábrica tem 2.800 empregados. “Vamos lutar para garantir uma nova expectativa de futuro para os trabalhadores, um cenário diferente dessa indefinição e desse risco que se desenha hoje.”

Em Taubaté, no Vale do Paraíba, interior paulista, os trabalhadores da Ford entraram em greve na tarde de ontem (21), segundo informou o Sindicato dos Metalúrgicos da região, em protesto contra 12 demissões. A entidade vinha discutindo com a empresa alternativas para evitar a demissão de 350 trabalhadores, número que a empresa considera “excedente”. A unidade tem aproximadamente 1.300 empregados.

Em novembro, foi aberto um PDV, com 128 inscritos. O sindicato de Taubaté e o CSE (comitê sindical de empresa) se disseram surpreendidos com a postura da montadora durante a negociação.

GM

Representantes da General Motors e de sindicatos de metalúrgicos de São Caetano, também no ABC, e de São José dos Campos (SP) – municípios onde a GM tem unidades no estado – se reuniram durante duas horas na fábrica do interior paulista, depois que circularam informações de que a montadora poderia encerrar suas operações no Brasil, onde tem quase 20 mil funcionários espalhados em quatro fábricas, alegando prejuízos que não poderiam se “repetir” neste ano. Mas os trabalhadores desconfiam das alegações da montadora. Metalúrgicos ligados a diversas centrais divulgaram ontem nota questionando a GM.

Em nota, o sindicato de São José disse que a empresa confirmou “que está em processo de reestruturação global e que para realizar novos investimentos no Brasil buscará negociações com governos, sindicatos e fornecedores”. A entidade acrescentou que é “contra qualquer plano que envolva demissões e flexibilização de direitos”, mas está aberta a negociações. “A  GM é líder de mercado e não há qualquer motivo que justifique o fechamento de fábricas”, disse o vice-presidente do sindicato, Renato Almeida.

No ano passado, o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga – que participou da reunião de hoje –, deu entrevista à newsletter AutoData e declarou que a empresa estava em um “ponto de equilíbrio” em relação às finanças. “A GM é a número um na América do Sul, fizemos investimentos, a nossa marca tem um reconhecimento muito forte aqui, quase o melhor do mundo. A América do Sul é um ponto chave, estratégico e  foco da GM. Não sou eu quem diz isso, é a Mary [Mary Barra, CEO global]. (…) Se estivéssemos hoje fora do ponto de equilíbrio, sem melhorar a rentabilidade, não sei se a resposta seria a mesma. (…)  Mas da forma que estamos, com perspectiva de crescimento somada aos investimentos, entendo que dificilmente você vai achar um momento da GM no passado melhor do que o atual.”

Ainda em 2018, a empresa anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão para a fábrica de São Caetano, além de R$ 1,9 bilhão para a unidade de Joinville (SC), que produz motores. A GM também tem fábrica em Gravataí (RS). 

De acordo com o jornal Valor Econômico, a empresa quer discutir incentivos fiscais com prefeituras e o governo estadual paulista. O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), participa da reunião de hoje. Apenas a GM responde por 5% da arrecadação municipal e o entorno da montadora, outros 5%. Ao Valor, o secretário estadual de Fazenda e Planejamento, o ex-ministro Henrique Meirelles, disse que estuda benefícios de ICMS à empresa.