Ecos da escravidão

No centro de São Paulo, ato da CUT debate o combate ao racismo

Trabalhadores lembraram na Praça do Patriarca que o preconceito faz com que a população negra receba menores salários e também seja a principal vítima da violência

CC

“Somos mais de 50% da população, mas somos invisíveis para o Poder Público”

São Paulo – A Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-SP levou para as ruas do centro da capital paulista nesta terça-feira (15) o debate sobre a exclusão da população negra no mundo do trabalho. O último domingo (13) marcou os 130 anos da abolição da escravidão. Trata-se, porém, de uma “libertação inacabada”, em que a igualdade de direitos ainda não foi alcançada, e que o preconceito e a violência contra os negros ainda permanecem como principal herança deste período.

“Nossos antepassados foram sequestrados, na África, e trazidos para o Brasil. Negros e negras que morriam durante a travessia eram jogados ao mar. Fomos libertados sem direito a nada. Alguns dizem que devemos celebrar a data do fim da escravidão. Nós dizemos que não”, afirmou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida.

Na Praça do Patriarca, próximo à Rua da Quitanda – que no século 18 era um reduto da população negra que vendia alimentos em tabuleiros, dando nome à via – trabalhadores dialogavam com a população que passava pelo centro sobre a necessidade de combater o racismo em todos os espaços.

De acordo com o IBGE, o rendimento médio para trabalhadores brancos era de R$ 2.646, em 2017, enquanto negros recebiam em média R$ 1.494. Números que revelam o racismo, ora velado, ora explícito, e que precisa ser combatido. 

Rosana ressalta que os jovens negros andam na rua com medo das abordagens truculentas da polícia, já que são as vítimas preferenciais dos chamados “autos de resistência”. Segundo dados do Atlas da Violência de 2017, um cidadão negro possui 23,5% mais chances de ser morto do que um não negro.

CUT-SP/Reprodução
Rosana Aparecida,secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP

Somos mais de 50% da população, mas somos invisíveis para o Poder Público”. Rosana diz ainda que políticas públicas voltadas ao combate ao racismo, desenvolvida durante os governos Lula e Dilma, vêm sendo desmontadas por Temer que, por exemplo, retirou o status de ministério da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), criada em 2003, agora incorporada ao Ministério dos Direitos Humanos. “Agora temos um ministério só de brancos”, denuncia a dirigente.

É importante discutir a questão do racismo no momento atual, em que alguns grupos se acham superiores a outros. A maioria diz que há racismo no Brasil, mas, ao mesmo tempo, diz que não é racista. Então onde se esconde o racismo? Não cabe mais a omissão e a negação da realidade”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários de Guarulhos e Região, Luís Carlos dos Santos.

Geni Aparecida, do Sindicato dos Funcionários e Servidores da Educação do Estado de São Paulo (Afuse), conta que a avó, neta de escravas, passou a vida trabalhando por comida. Sua mãe também não teve melhores oportunidades. Ela, que começou a trabalhar ainda criança como doméstica, só teve melhor sorte mais tarde, aos 51 anos, graças ao ProUni, com o qual pôde cursar a faculdade de Letras. 

Foram nossos antepassados que construíram esse país com o seu trabalho, que sofreram no tronco. Agora o racismo precisa acabar. Temos que ter a consciência que todos somos iguais. O preconceito racial machuca”, diz Geni, que pede por direitos e igualdade de oportunidades para todos. 

 

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