Memória

Líder portuário e dos aposentados, preso na ditadura, morre aos 93 anos

Oswaldo Lourenço participou de sua primeira greve em 1943

Reprodução

Lourenço militou no movimento sindical desde os anos 1940 e atuou na ALN durante a ditadura

São Paulo – No dia do golpe (de 1964), em 1º de abril, o líder portuário Oswaldo Lourenço, de Santos, litoral paulista, mal pôde ver Cecília, sua filha recém-nascida. Ele e outros dirigentes discutiam um plano de fuga porque a repressão já tentava prendê-los. Mesmo assim, foi à Santa Casa ver Cecília, o que conseguiu com ajuda de uma enfermeira, que o levou para os fundos do hospital, pois a polícia o aguardava na frente. Lourenço se escondeu na região do ABC e só conseguiu ver a filha novamente um mês depois.

Este foi um dos vários episódios da vida de Lourenço, que morreu nesta quinta-feira (15), aos 93 anos, completados no dia 1º deste mês. O corpo será cremado em cerimônia na tarde de hoje, no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.

Ele participou da primeira greve aos 18 anos, em 1943, quando era ajudante de caldeireiro na Companhia Docas. Dois anos depois, filiou-se ao Sindicato dos Empregados na Administração dos Serviços Portuários de Santos. Foi um dos fundadores do Fórum Sindical de Debates. Em 1962, foi eleito deputado estadual pelo PTB, então ainda a legenda que fora de Vargas e João Goulart, mas teve a candidatura impugnada, como a de outros ligados ao proscrito Partido Comunista. Um ano antes, quando Jânio Quadros renunciou, liderou uma greve no porto de Santos pela posse do vice João Goulart na Presidência da República.

Durante a ditadura, militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) a partir de 1967, quando rompeu com o PCB. Também comandou a Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap). Era presidente do Sindicato de Aposentados e Pensionistas Ferroviários e demais categorias do Estado de São Paulo e secretário dos Aposentados da CGTB.

Na ditadura, foi preso pela primeira vez em 1966. Contou que, ao ver conhecidos, levanta as mãos algemadas e gritava “fé, companheiros”. Passou por outras prisões e torturas. No livro que escreveu sobre Carlos Marighella, por exemplo, o jornalista Mário Magalhães cita uma prisão em setembro de 1969 em que, durante a tortura, os algozes da Operação Bandeirante (Oban, aparato repressivo que integrou Exército e governo de São Paulo) só queriam saber uma coisa de Lourenço: “Onde está o Marighella?”.

Em 2005, Lourenço lançou o primeiro volume de Companheiros de Viagem, livro de memórias, que teria continuação quatro anos depois.

Em depoimento, lembrou de várias greves deflagradas não apenas por motivações econômicas: por exemplo, em uma ocasião estivadores e portuários se recusaram a descarregar um navio espanhol, em solidariedade aos trabalhadores daquele país, que combatiam a ditadura de Franco.

 

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