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Vaticano discute mundo do trabalho; CUT denuncia retrocessos no Brasil

Em reunião com delegações de mais de 40 países, na sede na Igreja Católica, vice-presidenta da central relata gravidade de ataques a direitos

Divulgação

Vice-presidente da CUT fala em evento sobre as agressões do golpe de 2016 aos direitos dos mais pobres

São Paulo – Intercâmbio de informações a respeito das diferentes realidades enfrentadas pelos trabalhadores em todo o mundo e busca de uma agenda internacional de ações solidárias para enfrentar os desafios deste início de século. Foram esses alguns dos objetivos de um encontro promovido esta semana pelo Dicastério (espécie de departamento) para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano. A reunião tem a participação de delegações sindicais de mais de 40 países e será encerrada nesta sexta-feira (24), com presença do papa Francisco.

A vice-presidenta nacional da CUT, a trabalhadora rural Carmen Foro, denunciou a onda de ataques a direitos promovida em ritmo alarmante no Brasil desde o golpe de 2016. “A realidade dos trabalhadores brasileiros hoje é grave, de retrocesso absoluto de tudo o que conquistamos. Há aceitação do trabalho escravo pelo governo. Há destruição do Estado, das leis do trabalho, a tentativa de reformas que retiram um conjunto de direitos”, afirmou Carmen, em, entrevista à Rádio Vaticano.

“E o mais grave é que a população pobre, negros, jovens, mulheres, estão sendo os mais afetados. Estamos aqui porque sentimos que é preciso somar desejos de mudanças, que o nosso coração continue cheio de vontade de transformar a realidade social de meu país e do mundo todo”, reforçou a sindicalista. Ouça a entrevista:

O cardeal Peter Turkson, organizador do encontro, observou que a evolução tecnológica das últimas décadas não tem produzido ganhos compartilhados com os trabalhadores na forma da criação de mais empregos e melhores condições de trabalho, também apontando para o risco de retrocessos: “O fato de que a tecnologia subtraia trabalho ao ser humano é um desafio para o mundo moderno. O risco é que homens e mulheres façam um trabalho escravizado”.

Carmen ponderou que o progresso tecnológico trouxe avanços para a qualidade de vida da humanidade, mas que “apropriação dos seus benefícios sempre foi desigual”. 

A dirigente da CUT citou ainda argumento do papa Francisco sobre o uso da política e da economia a serviço da vida. E ressaltou o desempenho do papa na condição de estadista em sua defesa global dos movimentos sociais como meios de enfrentar as desigualdades. “Francisco é um ícone na história do mundo e será um parceiro fundamental do movimento sindical internacional e das organizações sindicais, porque sua palavra tem alcance profundo e porque a Igreja católica pode e muito contribuir com o processo de transformação que o mundo precisa neste momento.” 

Segundo ela, no Brasil, a classe trabalhadora e a população mais pobre convivem hoje com uma agenda de ataques não só aos direitos trabalhistas, mas também às políticas públicas de responsabilidade do Estado nas áreas de moradia, saúde e educação. Carmen lembrou as leis recentemente criadas para facilitar a venda de terras a grupos estrangeiros e permitir a privatização da água, da produção agrícola, dos recursos naturais como o pré-sal e do engessamento por 20 anos dos recursos para políticas sociais – “todas medidas tomadas pelos golpistas que usurparam a Presidência da República no ano passado”.

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