Prioridade é o projeto

Aos 10 anos, CTB discute saídas políticas para o país

Diante de um momento de 'ruptura democrática' e imprevisibilidade, presidente da central defende união das forças progressistas em torno de um projeto e diálogo com o setor produtivo

agência sindical

Adilson: classe dominante cobra fatura do golpe, e é importante que as forças progressistas se somem

São Paulo – Prestes a completar 10 anos, a CTB nasceu às vésperas da crise econômica desencadeada pelos Estados Unidos, atravessou a turbulência política de meados do primeiro governo Lula, viveu o período de bonança e um início de distribuição de renda, também com o ex-presidente, e agora observa uma fase de “ruptura democrática”, como define o presidente da central, Adilson Araújo. Na véspera de seu quarto congresso, em Salvador, a entidade avalia saídas políticas para o Brasil, que passam por 2018. Com Lula?

Essa é uma questão a ser avaliada, já que o cenário é de imprevisibilidade, diz Adilson. “Fica cada vez mais nítido que não existe saída solo”, afirma, defendendo um movimento amplo, “capaz de romper com o atraso” representado pelo atual governo. “O Brasil foi loteado. A classe dominante patrocinou o golpe e está cobrando a fatura. É importante que as forças progressistas se somem”, afirma o dirigente, para quem “atividades particularizadas” tendem a causar “mais tombos”.  

O desafio, acrescenta Adilson, é formar “uma frente ampla, que galvanize o movimento social, as entidades organizadas da sociedade civil, intelectuais, artistas”, em torno de um novo projeto de desenvolvimento. “A elite econômica já mostrou que não tem respostas”, afirma. Por isso, argumenta, é preciso buscar convergências e união entre os movimentos representados pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, o projeto Brasil Nação, comandado por Luiz Carlos Bresser-Pereira, e a caravana liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo ele, a questão não é um nome: “O debate hoje na sociedade é um projeto”. O presidente da CTB diz que “o imperialismo norte-americano não financiou o golpe para Lula ser presidente da República”. Assim, o setor progressista tem “uma liderança de grande popularidade, mas sob cerco”, que “pode até ganhar e não levar”. Ele defende diálogo amplo, inclusive com o setor produtivo. “Sozinhos não vamos ganhar o jogo.”  

Nascida em dezembro de 2007, em congresso realizado em Belo Horizonte, a CTB se confunde, na origem, “com o prenúncio de grave crise econômica mundial”, a partir da economia norte-americana. “Eu diria que nós atravessamos uma quadra bastante complexa e desafiadora”, diz Adilson. Após dificuldades iniciais no governo Lula, entrou em curso um projeto de desenvolvimento nacional, com ascensão social e políticas públicas representadas por programas como Luz para Todos, Bolsa Família e Cisternas, além da política de valorização do salário mínimo, originada de campanha unitária das centrais sindicais. “A projeção do Brasil foi extraordinária, ainda mais na política externa”, comenta o dirigente, apontando o retrocesso originado pelo “golpe do capital contra o trabalho, com desmonte do Estado nacional”.

O quarto congresso da CTB, em um hotel de Salvador, deverá ter aproximadamente 1.300 delegados, sendo 350 da Bahia. A entidade informa ter 1.200 entidades filiadas, com 10 milhões de trabalhadores na base. O Ministério do Trabalho, até 2016, reconhece 744 (com 1,286 milhão de sindicalizados), ante 566 em 2012.

A primeira mesa de debates, às 9h30 desta quinta-feira (24), terá o embaixador e ex-ministro Celso Amorim. Às 14h, o tema será “a crise capitalista e os impactos no mundo do trabalho”, com Mzwandile Michael Makwayiba (presidente da Federação Sindical Mundial), Sérgio Barroso (diretor da Fundação Maurício Grabois, ligada ao PCdoB), Augusto Praça (comissão executiva da CGTP-IN, de Portugal) e Peter Poschen, diretor no Brasil da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A abertura oficial está programada para as 20h.

Depois de painéis na sexta-feira, o último dia terá apresentação do balanço e do plano de lutas da central, com eleição e posse da nova direção, para o período 2017/2021. Adilson está na presidência desde 2013 – antes, dirigiu o Sindicato dos Bancários da Bahia e a central naquele estado.