Reformas e poder

‘Lula não é alvo à toa. Querem cortar nossa capacidade de disputar projetos’

Para vice da CUT, golpe dado no país visava não só a tirar direitos, mas atingir a própria democracia, da qual o ex-presidente é símbolo. Ela vê sinais de esgotamento do diálogo institucional

Dino Santos/CUT

“Parece que se esgotou qualquer processo de diálogo na institucionalidade”, diz Carmen Foro

São Paulo – A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a aprovação do projeto de reforma trabalhista e a intensificação de ataques a movimentos sociais não são episódios desconectados, na avaliação da vice-presidenta da CUT, Carmen Foro. Segundo ela, o golpe que levou à destituição de Dilma Rousseff não tinha como objetivo apenas reduzir ou retirar direitos, mas ferir a própria democracia, da qual qual o ex-presidente é símbolo.

“Lula representa a democracia. É símbolo muito forte daquilo que os pobres, os menos favorecidos, necessitam. Ele não é alvo à toa”, afirma Carmen, identificando um processo de perseguição, que resulta em uma possível retração do movimento social organizado em relação ao poder. “Eles querem cortar a nossa possibilidade de disputa de projetos.”

Após passar todo o dia de ontem (12) no Senado, que à noite aprovou a reforma trabalhista, Carmen viu na ocupação da mesa diretora por um grupo de senadoras “uma atitude revolucionária” pelo momento político. “Parece que se esgotou qualquer processo de diálogo na institucionalidade. Quando tem votação, a gente não consegue entrar. O Senado se transformou em um Senado omisso e submisso, se submete à lógica das negociatas”, diz. Ela e outros sindicalistas permaneceram horas presos no Auditório Petrônio Portela, para onde a presidência do Senado cogitou transferir a votação do projeto, diante da ocupação no plenário principal, que durou mais de seis horas.

As “perdas sociais” vividas no país incluem direitos trabalhistas, retrocessos na saúde, avanço da privatização na educação, perda de soberania na área do petróleo e aumento da violência no campo, lista a vice da CUT. “Isso se dá num contexto em que tudo é desfavorável aos mais pobres”, afirma, cobrando tributação para os ricos e efetivo combate à sonegação.

Triste por um lado mas “em chamas” por outro, como diz, ela só vê saída no aumento da capacidade de mobilização. Carmen acredita que muitos ainda não se deram conta dos efeitos da reforma aprovada no Congresso – um debate que precisa ser feito pelo movimento sindical. “Daqui a uns seis meses todo mundo vai saber o resultado da votação de ontem. É nos locais de trabalho que as pessoas vão vivenciar o que foi aprovado.”