Reformando as reformas

Presidente da Força defende negociação antes de nova greve geral

Para dirigente, deve-se aproveitar êxito do 28 de abril e fragilidade do governo. CTB e CUT defendem greve dia 30 e mobilização dia 20. “Quando trabalhadores estão em risco, temos de nos unir”, diz CUT

Força Sindical/Fotos públicas

Dirigentes de outras centrais participaram da abertura e insistiram que momento de ataques a direitos requer união

Praia Grande (SP) – O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse na abertura do oitavo congresso da entidade que é preciso repensar a nova greve geral, programada pelas centrais para o próximo dia 30, e apostar em um processo de negociação, aproveitando o fortalecimento das entidades e o enfraquecimento do governo Temer. “Todos nós saímos fortalecidos (da greve de 28 de abril), porque parou o Brasil. Agora, estamos num processo de negociação, de tentar corrigir os defeitos dessa maléfica reforma (trabalhista). Acho que a gente tem de rediscutir”, afirmou, ao final do primeiro dia, depois de boa parte do plenário vaiar o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e paralisar o congresso com gritos de “Fora Temer”.

O dirigente, também presidente de seu partido (SD), apresentou Nogueira como “aliado” dentro do governo – ele estaria ajudando a elaborar uma medida provisória com pelo menos quatro itens da reforma trabalhista: trabalho intermitente, homologações, terceirização e contribuição sindical. O ministro disse que está esperando a conclusão da tramitação do projeto (PLC) no Senado. Nesta terça (13), o relatório de Ricardo Ferraço (PSDB-ES) será lido na Comissão de Assuntos Sociais.

“Precisamos esperar um pouco”, disse Paulinho, depois da mesa de abertura, referindo-se à proposta de greve. “No dia 30 não tem deputado em Brasília.” Para o presidente da Força, mesmo forças políticas não se interessam pela saída de Temer. “Ninguém questiona ele, a não ser o povo”, ironizou. “É melhor ter ele enfraquecido”, acrescentou, sem acreditar no sucesso da campanha de eleições diretas já e observando que um processo de impeachment exigiria muito tempo.

Um dos líderes do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, a quem acusou, em artigo publicado hoje, de negar interlocução com o movimento sindical, Paulinho fez menção ao clima político de confronto no país. “Esse enfrentamento que tem hoje na sociedade é quase inaceitável.”

Dirigente da Força, o deputado Bebeto (PSB-BA) afirmou que as reformas atendem a interesses da elite financeira e do conservadorismo. Ele considerou improvável a votação da reforma da Previdência e disse que o momento é de “luta política e de negociação”.

Canção nacional

Pouco antes da abertura do congresso, o presidente da CTB, Adilson Araújo, disse que a continuidade de Temer na presidência seria uma “tragédia, diante do estado de caos da nação”. Para ele, a greve geral ocorre em momento oportuno. “O Fora Temer se transformou numa canção nacional. Não podemos nos dar por vencidos.” Para ele, será preciso ousadia para viabilizar um processo eleitoral antecipado. “As diretas não vão se dar só na musicalidade. Tem de ter radicalidade.”

O dirigente defendeu a realização de uma plenária sindical nacional, para “atualizar” a agenda discutida na Conclat de 2010, conferência que elaborou uma pauta aos candidatos da eleição presidencial daquele ano. “A grande saída para nós era uma atualização da agenda da classe trabalhadora, para apresentar ao país. É um governo em xeque, com ministros denunciados, e um Congresso hostil. A situação é preocupante, porque o país continua cambaleando. A classe trabalhadora continua pagando o ônus da crise.”

O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, disse que a greve de 28 de abril “foi o maior recado que a classe trabalhadora” deu aos defensores das reformas, mas elas continuam sendo uma ameaça. “Enquanto não forem retiradas, nossa luta continua”, afirmou Ele lembrou que as centrais preparam, antes da greve, uma mobilização nacional no próximo dia 20, contra as reformas e o governo. “Nós temos pensamentos diferentes, mas não podemos ter dúvida de que quando os direitos da classe trabalhadora estão em risco nós temos de nos unir.”

Dirigente da Força e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (Grande São Paulo), Jorge Nazareno, o Jorginho, avalia que a mobilização deve ser voltada para barrar a reforma trabalhista, “porque a previdenciária parece que subiu no telhado”. Além disso, este é um momento de “reinventar” o movimento sindical, rediscutindo a relação com as bases e aumentando o empenho para aumentar a representação dos trabalhadores no Congresso.

Segundo ele, movimentos recentes, como a greve de 28 de abril, a marcha a Brasília em 24 de maio e o ato de 15 de março demonstraram identificação popular com a agenda dos sindicatos. “Isso criou uma nova relação com os trabalhadores, mas longe ainda do que precisamos ter.”

Com 3 mil delegados de 1.700 entidades, o congresso também teve uma perspectiva inédita de apresentação de uma segunda chapa. “Essas arestas recentes foram superadas pelo período que nós vivemos”, comentou Jorginho, referindo-se ao momento político do país. “Mas a central ainda guarda diferenças que precisam ser trabalhadas. Não dá para fazer um diálogo, externo e interno, sem que se ouçam todos os pensamentos. Esse é um aprendizado para nós. As pessoas vão debater mais abertamente.”

Esta terça-feira será dedicada a debates sobre temas diversos, divididos em seis grupos. A plenária de encerramento será realizada na quarta, com eleição da nova direção, que manterá Paulinho na presidência. No primeiro dia de congresso, foram organizados encontros setoriais e fundado o Secretariado Nacional do Setor de Serviços da central.

 

 

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