Crise política

Representante da Força deixa ‘Conselhão’. Centrais avaliam marcha

Dirigente afirma que governo optou por impor ajuste aos trabalhadores, com reformas que extinguem direitos. Sindicalistas ainda criticam ação de pessoas estranhas ao movimento no ato de Brasília

Antonio Cruz/Agência Brasil

“Não dá para brincar de democracia, fingir que está debatendo”, afirmou Juruna, da Força Sindical

São Paulo – O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, renunciou ao cargo de integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o “Conselhão”. Em ofício endereçado ao presidente Michel Temer, ele justifica sua decisão pelo fato de o governo “ter optado pelo caminho de impor aos trabalhadores e aos brasileiros mais humildes o ônus dos ajustes econômicos e sociais representados pelas propostas de reformas trabalhista e da Previdência Social, medidas que buscam extinguir direitos fundamentais conquistados pela luta histórica do povo trabalhador e do movimento sindical brasileiro, adotadas a toque de caixa e sem a necessária negociação e construção de consensos, o que deveria comandar a ação de um Conselho tripartite como é o CDES e de qualquer governo democrático preocupado com o bem-estar do povo”.

Segundo o dirigente, que lembrou não estar representando a entidade, mas participando com base em um convite individual, não se trata de uma questão de radicalismo. “Acho que temos de ocupar todos os espaços democráticos. Não dá para brincar de democracia, fingir que está debatendo”, afirmou.

Além de Juruna, faz parte do Conselhão a secretária de Cidadania e Direitos Humanos da central, Ruth Coelho Monteiro, que também pode sair. O movimento sindical tem ainda os presidentes da CSB, Antonio Neto; da Nova Central, José Calixto, e da UGT, Ricardo Patah, além do diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.

Ao reformular o CDES, no final do ano passado, o governo Temer dispensou representantes da CUT e da CTB. Também deixaram o colegiado integrantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE). Foram “demitidos” ainda, entre outros, o ator Wagner Moura e o escritor Fernando Morais.

O atual Conselho Gestor não tem representantes dos trabalhadores ou de movimentos sociais. É integrado por Claudia Sender (presidente da Latam Airlines Brasil), Dorothea Werneck (da Academia Brasileira da Qualidade, ex-ministra do Trabalho e da Indústria e Comércio Exterior), Fabio Coelho (presidente da Google Brasil), Germano Rigotto (ex-governador gaúcho, presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários e diretor da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, a Abimaq) e o publicitário Nizan Guanaes (Grupo ABC de Comunicação).

O presidente da UGT, Ricardo Patah, disse que ainda não pensou a respeito, mas qualquer decisão será discutida previamente com a direção da central. Ele lembrou que está no Conselhão desde o governo Lula, quando o colegiado, em sua avaliação, teve mais importância, perdendo peso na gestão Dilma. Para o dirigente, o CDES tem caráter institucional, independentemente do governo.

Já o presidente da CSB, Antonio Neto, também afirmou que não avaliou a questão e considerou que Juruna teve um posicionamento individual. “Vou discutir com a direção da central”, comentou.

Marcha e reformas

Na tarde da próxima segunda-feira (29), as centrais voltarão a se reunir, em São Paulo, para avaliar a marcha a Brasília e os próximos passos contra as reformas. “Eles não ganharam nada ainda”, disse Neto, para quem a reforma trabalhista em tramitação no Senado contém “atrocidades”.

Segundo o dirigente, também será importante analisar “a utilização da nossa marcha por inescrupulosos, vândalos”, referindo-se a possíveis infiltrados que provocaram um tumulto durante a manifestação da última quarta-feira. Patah também comentou o assunto: “Nenhum de nós tem relação com aquela maluquice e com a péssima capacidade de condução da polícia. Já fizemos 10 marchas a Brasília e nunca aconteceu nada”.

Ele criticou a decisão de considerar “lido” o relatório da “reforma” trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, mesmo sem a apresentação formal. “É uma irresponsabilidade tão grande quanto a da Câmara, onde o relator deturpou o projeto original”, afirmou o presidente da UGT. Para o dirigente, o texto, “é 100% empresarial e traz uma insegurança muito grande”.

Em uma das últimas reuniões do Conselhão, o secretário-executivo do colegiado, Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, afirmou que há “identidade” entre recomendações do CDES e a linha de ações do governo. Quando o Conselhão foi instalado, Nizan Guanaes sugeriu a adoção de medidas “amargas” e “impopulares” para a economia.

 

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