PEC 287

Relator da reforma da Previdência quer mexer em regra de transição

Deputado admite alterar idade mínima e tempo de contribuição, mas se mostra a favor de igualdade entre urbanos e rurais. Segundo ele, relatório sairá entre 16 e 20 de março. Nada é inegociável, afirma

Jaélcio Santana/Força Sindical

Para Arthur Maia, leis trabalhistas são cumpridas no meio rural da mesma forma que nos grandes centros

São Paulo –  O relator da comissão especial da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), disse hoje (20) que não existe nada inegociável na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287. Ele mostrou inclinação, principalmente, a mexer nas regras de transição propostas pelo governo. “Esse assunto tem de ser melhor equalizado. Esse é um ponto que eu acho muito difícil que prevaleça na PEC”, afirmou, durante encontro na sede da Força Sindical, na região central de São Paulo. Segundo o parlamentar, seu relatório será apresentado entre 16 e 20 de março, para ser debatido. “Essa PEC dificilmente vai sair da comissão até o final de abril.”

Segundo ele, também é preciso fazer ponderações sobre o período de contribuição – a PEC 287 estabelece tempo mínimo de 25 anos. “No Brasil temos uma rotatividade no emprego muito grande”, disse Maia. “Pode-se, inclusive, ter realidades diferentes de contribuição para o trabalhador privado e para o trabalhador público. É uma possibilidade.”

Durante a reunião com os sindicalistas da Força, o relator ouviu apenas críticas à proposta. Parte dos dirigentes, inclusive, mostraram-se contrários mesmo à apresentação de emendas, como fez o presidente da central, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP). Maia, que já foi filiado ao Solidariedade e, nesse partido, relatou o projeto de lei da terceirização – criticado pelas centrais e hoje tramitando no Senado –, afirmou que o projeto governista da Previdência chegou à Câmara “com ampla abertura de discuti-lo, fazer concessões e criar, sobretudo, novas alternativas”. Segundo ele, a melhor coisa para fazer um bom relatório “é não entrar com ideias fixas”.

O deputado mostrou-se disposto a manter, como propõe a PEC, a igualdade na idade mínima entre trabalhadores urbanos e rurais, item contestado por dirigentes ligados à agricultura familiar como fator que inviabilizaria a aposentadoria no campo. “Francamente, acho que essa regra (idades diferentes) ficou um pouco démodé“, comentou, lembrando ter sua principal base eleitoral no interior da Bahia.

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Para Maia, houve “qualificação” na vida do campo nos últimos 30 anos, entre outros fatores, como a fiscalização. “As leis trabalhistas são cumpridas tais quais nos grandes centros. Não vejo mais sentido em haver no Brasil essa distinção”, acrescentou. O deputado disse ainda ser favorável a uma contribuição individualizada, e não mais, como hoje, com base na renda. “A ideia que está prevalecendo na PEC é acabar com esse pagamento pelo núcleo familiar.”

Sem isenções

Ele afirmou ainda que a questão da idade mínima “será um tema muito debatido”, mas preferiu não entrar em detalhes. “Vai depender do cálculo atuarial”, afirmou. Uma emenda apresentada por um grupo de 23 deputados de oito partidos, incluindo Paulinho, propõe idade mínima diferenciada, de 60 anos para os homens e 58 para as mulheres. O governo quer 65 anos em ambos os casos. 

Para ele, a lei precisa garantia de que não haverá mais isenções de qualquer espécie com recursos da Previdência. “Acho que seria de bom alvitre se evoluíssemos para uma proibição total de qualquer tipo de isenção com tributos previdenciários. Isso é uma possibilidade que eu, como relator, tenho muita simpatia.” Maia criticou isenções dadas a entidades filantrópicas e ao agronegócio.

Maia disse não ter dúvidas de que a Previdência tem déficit e que é preciso garantir regras que deem sustentabilidade ao sistema, considerando o aumento da expectativa de vida da população, entre outros fatores. Ele rebateu a argumentação de que o sistema é superavitário. “Querem que todo dinheiro da seguridade social seja destinado para a Previdência. Isso não é possível”, afirmou, destacando o tripé constitucional formado por previdência, saúde e assistência social. Ele afirmou considerar a possibilidade de atribuir crime de responsabilidade a gestores públicos ou privados. “Não adianta a gente pensar na despesas sem pensar na receita. Estou atento a essa realidade. Temos de endurecer as regras de quem não está pagando. Seria um acréscimo significativo.”

O deputado disse que obter 308 votos (mínimo para aprovação da PEC, em dois turnos) “não é fácil para governo nenhum”. E, segundo ele, não é da índole do presidente Michel Temer fazer “tratoramento”, ou seja, passar por cima de tudo na discussão. 

Advogada do Sindicato Nacional dos Aposentados da Força, Tonia Galleti disse considerar que a reforma significa “um desmonte do Estado de bem-estar social” no país, uma alteração no formato do Estado. “Isso pode gerar mais problema, menos distribuição de renda e mais dificuldade no acesso a direitos básicos”, afirmou, também questionando a questão das receitas previdenciárias. “É muito fácil falar que há déficit quando se retira 30%”, criticou a advogada, referindo-se à Desvinculação das Receitas da União (DRU).

Amanhã, representantes das centrais sindicais farão visitas a deputados, inclusive ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para falar da PEC 287. “A vinda do Arthur Maia mostra que é possível negociar. A margem de negociação é grande. Temos de ter persistência”, afirmou o presidente da Força.

 

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