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Em ato simbólico, trabalhadores da Mercedes queimam telegramas de demissão

Ato foi realizado em frente à fábrica, em São Bernardo, no ABC paulista, na manhã desta sexta-feira (19). Sindicato busca negociações com a empresa e apoio do ministro interino do Trabalho

Rodrigo Pinto/ABCD Maior

Ato simboliza a rejeição da categoria ao comunicado de demissão enviado pela montadora

ABCD Maior – “Sinto que voltei para a briga”, desabafou um dos trabalhadores na Mercedes-Benz após queimar o telegrama com aviso de demissão recebido há dois dias. Em ato realizado hoje (19) em frente à fábrica de São Bernardo, os metalúrgicos demonstraram disposição de manter as atividades contra os cortes anunciados pela empresa no início desta semana.

O funcionário Ricardo Marques da Silva trabalha na montadora há cinco anos na área de eixo e relatou a sensação de alívio ao ver a carta pegando fogo. “Isso demonstra que estamos reagindo e prontos para brigar pelo nosso emprego. É como se todo o problema tivesse sido queimado junto”, disse.

Na avaliação do secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Valter Sanches, o ato de queimar os telegramas simboliza a rejeição da categoria ao comunicado de demissão sumária. “Demitir um trabalhador já é uma decisão extrema, mas da forma que a notícia foi dada é de muita frieza por parte da empresa; por isso não aceitamos e queimamos cada carta”, afirmou.

A quantidade de telegramas queimados é desconhecida, mas a empresa havia informado no início do mês, por meio de boletim interno, que daria início ao processo de demissões a partir de setembro – quando o prazo de estabilidade pelo Programa de Proteção ao Emprego (PPE) é encerrado – de cerca de 1.870 funcionários. O número se refere à quantidade de trabalhadores que restaram do excedente anunciado pela fábrica de 2.500 metalúrgicos, depois de encerrado o Programa de Demissão Voluntária (PDV) com 630 adesões.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC convocou os trabalhadores para assembleia segunda-feira (22), às 10h, em frente à sua sede, seja para manter a mobilização ou para informar algum encaminhamento das negociações junto com a Mercedes-Benz, que se estendem na tarde desta sexta-feira.

Ministro discute demissões

O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, disse hoje que está preocupado com as demissões anunciadas esta semana pela Mercedes-Benz. Após encontro com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, e representantes dos trabalhadores da empresa, o ministro informou que o governo conversará com a direção da empresa.

“Vou procurar a direção da Mercedes, oferecendo que o próprio governo esteja nessa mesa de negociação para construir um formato que não seja traumático e para evitar que o trabalhador receba na residência um telegrama avisando da demissão. É preciso uma relação respeitosa nesse quesito. Quando o trabalhador é chamado para uma jornada maior ele sempre faz esse gesto. E precisa contar com o respeito e generosidade quando tem de ser demitido”, acrescentou.

Nogueira afirmou que o governo pretende prestigiar os sindicatos porque eles são a representação legítima dos trabalhadores. “O ministério quer trabalhar em sintonia com a organização sindical. Reconhecemos  sua importância como parceiro para promover políticas públicas de proteção ao trabalhador. Temos consciência da gravidade da crise e precisamos trabalhar de forma integrada para construir um plano para sairmos da crise preservando os empregos.”

Nogueira garantiu que, além de dialogar com as empresas, o governo pretende aprimorar o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), de modo que ele seja mais abrangente. Segundo o ministro, é necessário ainda aprimorar a legislação trabalhista. “Não há possibilidade do direito do trabalhador ser revogado. Vamos trabalhar na atualização da legislação em itens que trazem insegurança jurídica”.

Para Rafael Marques, o encontro com o ministro foi importante e, dentro da atual conjuntura, fortalece o processo de resistência que o sindicato está tentando promover com a Mercedes-Benz para que a empresa não demita. “As negociações estão andando, mas estão muito difíceis. O gesto do ministro em vir aqui é muito positivo e deixa a Mercedes em uma condição de ter de pensar melhor.”

Para Marques, é possível chegar a um acordo estruturado para se encontrar uma alternativa para o excedente. “Nossa proposta é melhorar o PPE. Estamos dizendo para a Mercedes continuar no PPE. O layoff também é uma alternativa que já foi utilizada e continuará administrando o excesso com programas de demissões voluntárias que podem ir se repetindo”.

Segundo Marques, o sindicato já se reuniu com a empresa duas vezes depois do envio dos telegramas e hoje deve haver uma nova reunião.

“Eles continuam dizendo que não há possibilidade de encontrar alternativa para essa situação da empresa. Estamos buscando de tudo. Os trabalhadores de terem vindo para cá em massa na terça-feira  (16) foi fundamental para que ontem (18) a negociação começasse a dar alguma esperança para nós”, concluiu o sindicalista.

Com Agência Brasil