Montadoras

Acordo na Volks preserva empregos no ABC: ‘Duro, mas necessário’

Após longa negociação, assembleia aprova acordo que inclui programa de demissões voluntárias, 'lay-off', PPE e reajuste sem aumento real. Para metalúrgicos, acerto deve permitir investimentos

Edu Guimarães/SMABC

Acordo aprovado garante estabilidade até 2021, condicionada a uma produção de 120 mil unidades no ano

São Paulo – Trabalhadores na Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, aprovaram hoje (2) em assembleia um acordo para evitar 3.600 demissões, número equivalente a pouco mais 30% da mão de obra e que a empresa afirma ter como excedente em sua fábrica. O acordo inclui programa de demissões voluntárias (PDV), uso de mecanismos como lay-off (suspensão de contratos de trabalho) e do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e mudanças em cláusulas econômicas, sem reajustes acima da inflação nos próximos anos.

As negociações levaram mais de dois meses e envolveram a direção mundial da empresa, com “muito vaivém”, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. “Teve um trabalho muito forte para chegar a uma proposta que é dura, mas não tem saída para a Volkswagen em São Bernardo”, avalia.

“O acordo mantém emprego e dá condições para a Volks voltar a investir. Fizemos um trabalho árduo. Com esse acordo, a gente consegue dar um pouco mais de tranquilidade”, acrescenta, lembrando da crise pela qual passa a indústria automobilística. “Como a retomada no nosso setor será lenta, esse acordo era muito necessário.”

O PDV será aberto nesta quinta-feira (4), tanto para trabalhadores na produção como para os mensalistas (áreas administrativas). Quem aderir na primeira fase, até o dia 10, receberá aproximadamente meio salário por ano trabalhado mais 20 salários. Se a adesão acontecer em períodos posteriores, o valor diminui para 15 e 10 salários, respectivamente.

Para o setor administrativo, a meta é de 325 adesões – segundo o sindicato, a proposta inicial da empresa era de 1.100. Não há meta na produção. Se ainda houver excedente após o PDV, poderão ser aplicados o lay-off e o PPE, com redução de até 30% na jornada e de 15% nos salários.

Nos próximos cinco anos, os reajustes salariais deverão se limitar à variação da inflação. O período que vai de março deste ano e setembro do ano que vem será pago em forma de abono, equivalente à variação do INPC-IBGE. De 2018 a 2021, será pago reajuste com base na inflação. A participação nos lucros ou resultados (PLR) deste ano se mantém com valor acordado anteriormente, de R$ 11.800. A partir do próximo ano e até 2021, haverá correção pelo INPC. O sindicato informou que a Volks não pretendia dar reajustes de 2017 a 2019 e pagar PLR de R$ 4.600 neste ano.

Estabilidade

“O acordo aprovado garante estabilidade até 2021, desde que assegurado um volume de produção na fábrica da Anchieta de 120 mil unidades no ano”, diz o sindicato. O volume atual é de 175 mil.

“Foi a negociação mais difícil já conduzida com a Volkswagen, pois se deu em maio a uma conjuntura econômica muito difícil”, afirmou o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos, que é funcionário da montadora. “Estamos tendo de ajustar acordos que estavam em curso em função da queda na produção, que tem sido muito forte. Conseguimos melhorar bastante a proposta durante o processo, mantendo itens econômicos importantes e afastando o risco de demissão.”

O presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels, foi recebido hoje pelo presidente interino, Michel Temer, e teria relatado os termos do acordo. Na saída, o executivo não quis falar com a imprensa.

A produção nas fábricas de São Bernardo e de Taubaté, no interior paulista, está parada nesta semana. O motivo é a falta de componentes fornecidos por uma empresa que fechou recentemente.