superar divergências

‘Quem faz greve geral é o trabalhador, não é vontade do dirigente’

Centrais buscam unidade para organizar resistência em defesa de direitos. 'Trabalhador não faz greve por política, faz por direito', diz Vagner, da CUT. 'Ou nos unimos ou sucumbimos', afirma Patah, da UGT

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Representantes de oito centrais participaram de plenária em São Paulo: críticas a governo interino e a empresários

São Paulo – Greve geral, ataques à Confederação Nacional da Indústria (CNI) e esforços para consolidar a unidade diante da ameaça de retirada ou “flexibilização” de direitos. Na assembleia nacional de hoje (26), em São Paulo, as centrais buscaram convergências para anunciar os próximos passos em comum, incluindo um dia de mobilização em 16 de agosto. Convergiram na avaliação sobre uma paralisação no país e quanto a declarações da CNI, depois amenizadas, sobre jornada de trabalho. Tiveram algum problema para consolidar a unidade, com divergências políticas.

Sobre uma possível greve geral, defendida por parte dos sindicalistas, o presidente da CUT, Vagner Freitas, repetiu que o movimento não acontece por vontade do dirigente sindical, mas como reação do trabalhador à perda de um direito, como na Previdência ou na legislação. “A greve não se impõe pela nossa vontade. Trabalhador não faz greve por política, faz greve por direito. Mexe nos nossos direitos, é greve”, afirmou, manifestando preocupação com pronunciamentos de representantes do governo interino e com “declarações intempestivas” do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, que ao falar de reforma trabalhista na França chegou a citar jornada de 80 horas semanais (na verdade, 60). Depois, a entidade amenizou a declaração, dizendo que respeita a jornada prevista pela Constitução.

“Quem faz greve não somos (dirigentes), são eles (trabalhadores)”, concordou o presidente da Força Sindical e do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Defensor do impeachment de Dilma Rousseff, ele chegou a ouvir alguns gritos de “golpista” vindos do fundo do plenário, mas se posicionou contra a reforma da Previdência encaminhada pelo governo interino. “Se um governo eleito não tem condições de fazer, imagine um que não foi eleito.”

Para Paulinho, o governo não tomou nenhuma medida concreta na direção da retomada do crescimento. Mas, em sua avaliação, “a crise política está se encerrando”. O que pode ter um efeito preocupante, acrescentou: um governo com base consolidada para votar projetos prejudiciais aos trabalhadores.

Esforço político

Enquanto o presidente da Força falava, uma “plenária” à parte ocorria: a representação da CSB discutia se permanecia ou não. O presidente da entidade, Antonio Neto, não compareceu ao encontro, enquanto o secretário-geral, Alvaro Egea, embora tenha discursado, não sentou à mesa ao lado dos demais dirigentes. “A unidade pressupõe respeito. É dialética”, disse Egea, ao final do encontro.

A CSB foi contra a presença, na mesa, de centrais não reconhecidas formalmente, casos da CGTB, principalmente, e da CSP-Conlutas. “Foi combinado que eles só teriam direito à palavra. Todo o esforço político está sendo feito pelas seis centrais.” Também fizeram parte da mesa o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, e Atenágoras Lopes, da executiva da CSP-Conlutas. Cinco anos atrás, uma disputa interna na CGTB resultou na saída de vários sindicalistas, incluindo Antonio Neto.

Mesmo com a divergência, o secretário-geral disse que a CSB está comprometida com a agenda e as propostas aprovadas hoje. “Espero que a gente tenha juízo para colocar as questões macro em primeiro lugar. O mais importante é que neste segundo semestre estamos construindo uma agenda de mobilização unitária. Isso é estratégico.” O dirigente avalia que a disputa política causou uma paralisia no país e ruptura na sociedade. “Com o tempo, a gente vai superar essas divergências.”

Para Egea, o governo faz “conversa mole” ao dizer que não se posiciona, enquanto discute reformas ao lado de empresários e setores conservadores. “O governo interino não deu sinal de retomada do crescimento.” Ele acredita que, caso o impeachment seja consumado, o perigo vai aumentar. “A ofensiva dessa coalizão liberal será muito forte.”

O presidente da UGT, Ricardo Patah, reforçou o pedido de unidade. “Com a nossa desunião, num momento tão triste como este, vai ocorrer a flexibilização e a perda dos direitos. A terceirização aprovada na Câmara e que querem aprovar no Senado é precarizar. Não podemos permitir que se rasgue a CLT. Se não estivermos unidos, vamos ter problemas muito graves.”

Saco de maldades

Ele afirmou que a CNI, além da questão da jornada de trabalho, faz campanha para acabar com a Norma Regulamentadora (NR) 12, que trata de saúde e segurança no setor de máquinas e equipamentos. “Quando é para investir na máquina que vai proteger o trabalhador, eles não querem. Esse é o respeito que a área empresarial tem. Ou nós vamos para a rua, vestimos nossas camisetas de guerra, ou vamos sucumbir.”

Segundo o presidente interino da CTB, Nivaldo Santana, os trabalhadores estão “perplexos” com o “saco de maldades” do governo interino, que inclui mudanças no marco regulatório do pré-sal e privatizações. “Neste momento difícil, a unidade é o único caminho para os trabalhadores terem protagonismo na luta política e na luta econômica.” Ele afirmou que as centrais se unem em torno de três bandeiras: redução dos juros e da jornada, combate à tese do negociado sobre o legislado e repúdio à reforma da Previdência. “Vamos construir uma agenda alternativa.” Assim que Nivaldo terminou seu discurso, a bancada da CTB passou a gritar “Fora Temer”.

A CTB não irá à reunião convocada para amanhã, em Brasília, pelo Ministério do Trabalho. A CUT também não deve comparecer. As duas centrais não reconhecem o governo interino. Segundo Vagner Freitas, só poderá haver negociação com um governo permanente – essa definição depende do desfecho do processo de impeachment, provavelmente no final de agosto.

Para o presidente da Nova Central, José Calixto, o documento das centrais deveria conter, também, itens sobre a dívida do Estado brasileiro e sobre os servidores públicos. Ele criticou o Projeto de Lei (PL) 257, que prevê um plano de auxílio aos estados. “No afã de negociar as dívidas, derrama todas as consequências no servidor.” Para Calixto, o governo trabalha “psicologicamente”, no sentido de tentar convencer a sociedade que os problemas do país só serão resolvidos por meio de uma reforma trabalhista, adotando o lema de que “uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade”.

Assumindo-se na plenária como dirigente “conservador”, Calixto disse que não se pode, neste momento, descartar uma greve geral. “A água está subindo para o nosso pescoço. Estão querendo tirar tudo em nome do desenvolvimento da  nação”, afirmou o dirigente, também defendendo ações unitárias das centrais. Caso contrário, acrescentou, “vamos terminar contribuindo para afundar a classe trabalhadora”.

No documento aprovado hoje, as centrais afirmam que o governo não tem atuado para solucionar o problema do desemprego. “Ao contrário, na contramão do que deseja toda a sociedade, tem proposto medidas que aprofundam cada vez mais o drama dos trabalhadores”, afirmam.

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