patrocinadora dos jogos

Na passagem da tocha, grupo protesta na Nissan contra práticas antissindicais

Montadora é acusada de impedir sindicalização em fábrica do Mississipi, onde terceirização de metade dos empregados representa salários menores, jornadas exaustivas e planos de saúde precários

Fernando Cavalcanti/flickr

Manifestantes protestam em agência da Nissan na zona sul de SP, onde a tocha olímpica passou

São Paulo – Um grupo de aproximadamente 200 pessoas saiu às ruas hoje (24), em São Paulo, para protestar contra a presença da Nissan North America como uma das três maiores patrocinadoras oficiais dos Jogos Olímpicos Rio 2016, ao lado da Coca-Cola e Bradesco. A empresa é acusada de violar a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) dos Direitos Humanos por práticas antissindicais. A manifestação começou em frente ao Masp, na Avenida Paulista, e segue em direção à concessionária da montadora na Avenida Brasil, no Jardim América, onde a tocha olímpica, que passa pela capital, ficará entre 13h e 13h30.

O ato tem apoio do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, filiado à UGT, e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, da Força Sindical. No grupo, estão dois trabalhadores da fábrica de Canton, no estado do Mississipi, onde segundo a United Auto Workers (UAW), central sindical americana que representa os trabalhadores do setor automobilístico, a Nissan impede a sindicalização dos trabalhadores na base da ameaça.

“Os trabalhadores são obrigados a comparecer a seções de doutrina antissindical, assistir vídeos antissindicais nos refeitórios e nas salas de descanso, são ameaçados de demissão e/ou penalizados em suas funções ao menor sinal de que pretendem votar pela instalação do sindicato, tendo havido inúmeros casos de demissão. A empresa também espalha sistematicamente boatos de que a fábrica será fechada e transferida para o México, com a demissão de todos os seus funcionários, caso os trabalhadores consigam a sindicalização”, diz a UAW.

O representante de Relações Internacionais da UAW no Brasil, Rafael Guerra, diz que a entidade não protesta neste domingo contra os jogos, mas contra essas práticas, “completamente incompatíveis com o Código Básico da Iniciativa Ética Comercial, que é o cerne do Guia da Cadeia de Suprimentos Sustentável dos Jogos Olímpicos, documento que a Nissan firmou para poder patrocinar os jogos”.

Em 11 de abril, trabalhadores e diversas entidades sindicais cobraram da Nissan, durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado, que respeitasse nos Estados Unidos o direito de os trabalhadores se sindicalizarem. Tanto a Nissan Brasil como a Nissan North America são parte da Nissan Motor Corporation, presididas pelo brasileiro Carlos Ghosn, um dos executivos mais bem-sucedidos do mundo.

O representante sindical diz que aproximadamente metade dos 7 mil empregados da Nissan em Canton é terceirizada, ganhando menos de um terço do salário de um trabalhador sindicalizado exercendo a mesma função, com planos de saúde precários (quando existentes), jornadas exaustivamente longas e sem férias remuneradas.

No Brasil, a Nissan tem 3,5% do mercado e cerca de 7.500 funcionários ao todo nas fábricas de Rezende, no Rio, e de Curitiba.