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Trabalhadores denunciam que Alckmin retirou R$ 255 milhões do Metrô em dois anos

Valor da redução foi revelado por diretores da companhia, em reunião no TRT. Em 2014, foram R$ 189 milhões, e em 2015, R$ 66 milhões

Guilherme Lara Campos/A2 Fotografia

Retenção prejudica categoria, que tem direitos ameaçados, e a população, porque não são feitas contratações, o que provoca mais filas

São Paulo – O Sindicato dos Metroviários de São Paulo denunciou hoje (25) que o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), deixou de repassar R$ 255 milhões, correspondente aos passageiros com gratuidade, à Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) em 2014 e 2015. Os trabalhadores protestaram hoje na estação Sé, que liga as linhas 3-Vermelha e 1-Azul, contra a mudança na data de pagamento, a suspensão das férias e o atraso e divisão do pagamento da Participação nos Resultados (PR), devido a uma alegada crise financeira na companhia.

Os trabalhadores já suspeitavam que não estava sendo feito o repasse. O valor da redução foi revelado a eles por diretores do Metrô, em reunião no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, na tarde de ontem (24). Em 2014, foram R$ 189 milhões – cifra que supera o lucro líquido do Metrô naquele ano: R$ 86,8 milhões –, e em 2015, R$ 66 milhões dos R$ 330 milhões previstos (redução de 20%). O lucro de 2015 ainda não foi informado pela companhia.

“A retenção desse valor prejudica a categoria, que tem seus direitos ameaçados, e a população, porque impede o Metrô de realizar novas contratações, provocando filas na compra de bilhete, redução do atendimento nas plataformas e estações, entre outros problemas”, afirmou o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Júnior.

No início deste ano, os trabalhadores foram surpreendidos por uma série de medidas de economia por parte do Metrô. Os salários, antes pagos no fim do mês, passaram ao quinto dia útil do mês seguinte. As férias que ainda não atingiram o limite legal – 11 meses após o vencimento – estão suspensas. A PR, normalmente paga inteira no fim de fevereiro, foi dividida em três parcelas, com a primeira para o fim de março.

A suspensão no repasse das gratuidades é uma tentativa do governo Alckmin de reduzir o déficit nas contas do estado, que no passado chegou a R$ 1,38 bilhão. A diferença foi 289% maior que em 2014, quando o déficit foi de R$ 355 milhões. “E teve o propinoduto – referência ao cartel formado para fraudar licitações no Metrô – que desviou quase R$ 1 bilhão e o governo não reagiu. Agora não tem dinheiro e o trabalhador é que paga a conta?”, questionou Altino.

Os trabalhadores ameaçaram entrar em greve no dia 1º de março, caso o Metrô não retroceda nas medidas. Na reunião no TRT, o único avanço acertado foi que o Metrô pague a PR em duas parcelas e que a primeira seja no dia seguinte à assembleia dos metroviários, desde que eles aprovem a proposta. Os trabalhadores vão se reunir na próxima segunda-feira (29).

“Nós também queremos que seja paga a PR integral, porque o Metrô impôs metas inatingíveis, como a implementação completa do sistema de gerenciamento administrativo, o qual não depende do trabalho do metroviário. Muito pelo contrário, é uma empresa contratada que faz a programação”, afirmou Altino.

No ato de hoje, os trabalhadores foram da Estação Sé até a sede da empresa, na Rua Boa Vista, centro da capital paulista, cobrar uma nova reunião de negociação e que também sejam revistas as demais medidas, como suspensão de férias e mudança de data de pagamento. Até a publicação da reportagem, os trabalhadores não tinham recebido resposta da empresa. O Metrô não se pronunciou sobre o caso.