Sindicalismo

Paulinho reassume Força, promete pluralismo e ouve pedidos de moderação

Deputado afirma que saberá separar sua posição e da central e que nada muda na relação com outras entidades. Mas diz que, em caso de negociação, prefere não se reunir com Dilma

Força Sindical

Paulinho reassume afirmando que segue na defesa do impeachment e não gostaria de sentar à mesa com Dilma

São Paulo – Depois de dois anos licenciado, o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), reassumiu na manhã de hoje (12) o cargo na central em um momento de turbulência interna. Foram quase quatro horas de reunião da direção nacional e das estaduais, tensa, com praticamente um único momento de descontração – a audição do samba-enredo que será tocado em ato dos aposentados, no próximo dia 21. Mesmo a situação econômica do país ficou em segundo plano. Vários dirigentes pediram cautela a Paulinho em suas declarações públicas. O presidente do Solidariedade é um dos líderes do movimento pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, enquanto a Força optou pela neutralidade nessa questão, alegando pluralidade de opiniões entre os dirigentes da central.

Essa diversidade foi várias vezes lembrada durante o encontro, na sede da entidade. Entre os sindicalistas da Força que se manifestaram, estavam filiados a sete partidos (SD, PDT, PMDB, PSDB, PT, PCdoB e PSB). A maioria insistiu em preservar a Força Sindical de uma influência partidária direta.

Reeleito em julho de 2013, no sétimo congresso da Força, Paulinho, à época no PDT, se licenciou pouco tempo depois para se dedicar ao mandato federal e também à formação do Solidariedade. Ele comanda a central desde 1999, quando substituiu Luiz Antônio de Medeiros. Prestes a completar 25 anos – foi criada em março de 1991 –, a Força Sindical vivenciou hoje um raro momento de instabilidade política, com alguns de seus dirigentes expondo divergências publicamente.

Depois do encontro, Paulinho disse que saberá diferenciar as questões. “Meu partido vai ter uma defesa firme pelo impeachment. Aqui na central vai ter gente contra e a favor”, afirmou. Ele avalia que a relação com as demais centrais sindicais não vai mudar, inclusive em relação ao Compromisso pelo Desenvolvimento, documento aprovado no final do ano passado por entidades de trabalhadores e empresários. Mas vê dificuldades no contato com o governo. Inclusive, em seu contato direto com a presidenta: “Eu não gostaria de me reunir com a Dilma”.

Sobre a proposta discutida por centrais e associações patronais, o presidente da Força disse que as propostas precisarão do Congresso Nacional. “E acho que a Dilma não tem nenhuma condição de aprovar nada”, emendou.

Sem “amaciar”

Às dezenas de sindicalistas presentes à reunião, muitos manifestando sua preocupação com a postura pública de Paulinho, ele disse que saberá diferenciar seu pronunciamento como presidente da central e de um partido político. “Eu sei diferenciar. Sempre fui negociador. Sei também que vai ter questões que vamos ter nos reunir para decidir. Mas não tem como dizer que meu partido vai amaciar com a Dilma. Não vai.”

À frente da Força nos dois últimos anos, Miguel Torres, que comanda o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (de onde saíram Medeiros e Paulinho), disse, ao deixar o cargo, que “lealdade se demonstra” e que viajou o país defendendo Paulinho “nos momentos mais difíceis”. “Continuamos juntos, fortes e unidos. Nada vai nos dividir”, acrescentou Miguel.

O secretário-geral da central, João Carlos Gonçalves, o Juruna, que em 2014 publicou texto propondo a saída definitiva de Paulinho da entidade, afirmou que a reunião desta terça-feira representou um momento importante para a Força. “Estamos demonstrando a possibilidade de ter diferenças políticas profundas e discuti-las. Podemos ser experiência para a sociedade, porque os ânimos estão acirrados”, afirmou. Na época, o pano de fundo da divergência foi o apoio de Paulinho ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Filiado ao PT, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Jorge Nazareno, o Jorginho, disse que cabe a Paulinho ter cuidado para não trazer um “debate político-partidário” para o interior da central. E também destacou a convivência respeitosa entre os dirigentes de várias filiações dentro da Força.

“Não alinhe a nossa central a qualquer partido político que surja”, pediu a Paulinho o presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, Francisco Dal Prá. Outra recomendação foi evitar declarações públicas antes de consultar sua base sindical. “Nascemos pluralistas e democráticos”, afirmou a presidente da Força na Bahia, Nair Goulart. “Quero permanecer numa central com esses valores.”

Houve um momento mais tenso quando o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Barretos e Região, Luiz CarlosAnastácio, o Paçoca, defendeu a liberdade de Paulinho de falar em nome da central e do partido e fez críticas ao PDT, ao qual ele também já foi filiado. O presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, Claudio Magrão de Camargo Cre, pediu respeito. “A central não é do Solidariedade, é de todos os partidos que estão aqui. A nossa preocupação é com o que o país vai passar este ano.”

“A pluralidade é uma questão de princípio da Força Sindical. Aqueles que têm dúvidas vão ver mais à frente”, disse Paulinho, para quem o movimento sindical perdeu um pouco de “preponderância” na discussão de projetos. “Era preciso mais pressão no Congresso”, afirmou, citando como exemplo um projeto em preparação sobre custeio do movimento sindical – ele é presidente da comissão especial que discute o tema e o deputado Bebeto (Adalberto Souza Galvão, do PSB baiano e também da Força) é o relator. “Mesmo com apoio dos trabalhadores, dos sindicatos, teremos dificuldades.”

Para o presidente da central, a crise econômica está apenas começando. “Do meu ponto de vista, o governo não tem credibilidade para fazer as reformar que precisam ser feitas. As reformas que querem fazer são contra nós. Foi pensando nisso que resolvi voltar.”

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