abc

Químicos protestam por acordo sobre nafta e apontam ameaça a empregos

Apenas na região do ABC há 11 mil postos de trabalho em risco, número que pode subir para 20 mil considerando toda a cadeia produtiva que tem a nafta como matéria-prima principal

Valdir Lopes/químicos abc

Negociação envolve as unidades de Capuava, no ABC, de Camaçari, na Bahia, e de Triunfo, no Rio Grande do Sul

São Paulo – Preocupados com a preservação de empregos no polo petroquímico, os químicos do ABC realizaram manifestação hoje (30) diante da sede da Petrobras em São Paulo, na avenida Paulista, cobrando uma definição sobre o contrato de fornecimento de nafta à Braskem. O atual acordo vence amanhã. No início da noite, a Petrobras informou que a diretoria executiva aprovou novos aditivos, com duração de 45 dias, a partir deste domingo, dia 1º.

De acordo com o sindicato da categoria, apenas na região do ABC já 11 mil empregos estão em risco, número que pode subir para 20 mil considerando toda a cadeia produtiva que tem a nafta como matéria-prima principal. A negociação envolve as unidades de Capuava, no ABC, de Camaçari, na Bahia, e de Triunfo, no Rio Grande do Sul.

Petrobras e Braskem fazem renovações periódicas do acordo de fornecimento. Em 27 de fevereiro, as empresas assinaram um aditivo com duração de seis meses, com intermediação do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. No final de agosto houve nova prorrogação, até este sábado (31), mas não se conseguiu um acerto por prazo mais dilatado. Em fevereiro, o MME anunciava a formação de um grupo de trabalho com o objetivo de assegurar que as companhias atingissem “as bases para estruturar o suprimento continuado de matéria-prima”.

Esse acerto, porém, não ocorreu até agora. Ontem, a Petrobras divulgou  nota para afirmar que “seus órgãos competentes apreciarão as condições para a celebração de novos aditivos aos contratos de nafta com a Braskem, viabilizando a manutenção do fornecimento durante as negociações de um contrato de longo prazo”. A estatal informou que mantém tratativas com a Braskem há mais de dois anos, “buscando uma solução equilibrada e comutativa para ambas as companhias”.

A indefinição preocupa os químicos. “Tem uma expectativa de mais um aditivo, de 45 dias. Mas a qualquer momento pode haver uma interrupção (de fornecimento)”, diz o presidente do sindicato da categoria no ABC, Raimundo Suzart, para quem o protesto de hoje tinha como intenção mostrar a “indignação” da categoria com o impasse, que pode estar relacionado com preços no mercado internacional. Ele comentou sobre a perspectiva do novo aditivo antes da nota divulgada pela Petrobras.

O dirigente lembra de reunião realizada há um mês, em 29 de setembro, no Ministério de Minas e Energia, com sindicalistas da CUT e da Força Sindical e representantes das frentes parlamentares federal e estadual do setor químico. Na ocasião, segundo Raimundo, a direção da Braskem demonstrou disposição de aceitar o preço estabelecido pela Petrobras. “Para nossa surpresa, não vingou.”

O ministro Eduardo Braga disse que a negociação deveria resultar em uma solução de longo prazo, com uma “trava” para oscilações de preços, que poderia ser revisada periodicamente. “Precisamos olhar o que está acontecendo com a Petrobras com a responsabilidade de quem tem o desafio de fazer essa travessia sabendo de todas as nuances e do cenário global e completo que temos de enfrentar. Tudo isso é muito importante para diversos setores, com impacto na geração de empregos, na arrecadação de impostos e tributos da União, estados e municípios.”

Campanha salarial

Os químicos do ABC encerraram nesta sexta-feira a campanha salarial, com aprovação em assembleia de proposta que prevê reajuste com base na variação do INPC em 12 meses, até outubro, véspera da data-base. O percentual será conhecido na sexta-feira da semana que vem (6), quando o IBGE divulga o resultado mensal do INPC, usado como referência nas negociações, além do IPCA. O índice deve ficar próximo de 10%. Na base do sindicato de São Paulo, a proposta já havia sido aprovada.

“Foi um avanço. Não temos nenhuma perda nas cláusulas sociais (renovadas por dois anos) e repõe o INPC”, avalia Raimundo, que leva em consideração a situação econômica que atinge também a categoria. Apenas neste ano foram perdidos, até agora, 2.300 postos de trabalho na base.