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Para sindicalistas estrangeiros, crise no Brasil é mais política do que econômica

Segundo dirigente da CSA, delegação estrangeira espera que congresso da CUT termine com resposta política contra a crise. Evento começou aos gritos de 'fora, Cunha' e 'não vai ter golpe'

roberto parizotti/cut

Ex-presidente Lula chega para o evento acompanhado do presidente da CUT, Vagner Freitas

São Paulo – Às 19h25, quando o acesso ao plenário começou a ser liberado, delegados ao congresso nacional da CUT gritavam “Não vai ter golpe” e “Fora, Cunha”, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O tom político domina o evento, realizado no Palácio da Convenções do Anhembi, em São Paulo, principalmente com a decisão da central de antecipar a escolha de sua nova direção, que deverá ser ratificada no último dia do congresso, sexta-feira (16). Também é essa a expectativa da delegação estrangeira, que se reuniu antes da abertura do encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele participará do ato ao lado da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente do Uruguai José Mujica, atual senador. Dilma confirmou sua presença apenas na manhã de hoje.

De acordo com o secretário de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável da Confederação Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, há uma “preocupação enorme” entre os delegados internacionais com o momento político do Brasil. “A maioria não entende como chegou a essa situação.”

O receio é de que um retrocesso institucional deixe outros países da região mais vulneráveis. Freire lembra que, neste século, houve dois golpes, em Honduras (via Judiciário, com confirmação do Parlamento) e no Paraguai (via Parlamento, com ratificação do Judiciário). “Eles (delegados estrangeiros) entendem que a crise (no Brasil) é mais política do que econômica”, diz o dirigente da CSA. Segundo ele, também causa estranheza o fato de que as investigações em curso sobre corrupção envolvam apenas um partido (o PT).

Freire avalia que a representação internacional numerosa no congresso da CUT demonstra essa expectativa, de que a central possa sair reagindo de forma determinada contra a crise. O fato de a nova direção ter sido praticamente definida antes do congresso (será ratificada no último dia) deve contribuir para os debates. Segundo o dirigente, a expectativa dos delegados estrangeiros é de que “o centro do congresso seja a resposta política”.

Este também foi o teor da conversa de Lula antes da abertura do congresso, em tom otimista, segundo o relato de Freire. “Ele cobrou muito que o movimento sindical tenha uma posição ativa em relação à defesa da democracia”, afirmou. “Lula explicou bem o que foram os avanços sociais nos últimos anos e a capacidade brasileira de superar a crise.” O chamado ajuste fiscal do governo também suscitou dúvidas entre os estrangeiros, que analisam a receita como “neoliberal”, já aplicada em outras ocasiões e que tem se mostrado ineficaz.

No segundo dia do congresso, nesta quarta-feira (14), às 10h, haverá debate sobre conjuntura internacional e nacional com a participação do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, do ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, e de João Felício, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI).

À tarde, haverá mesa de debate sobre defesa de democracia com o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, do professor Venício Artur de Lima e do líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stédile.

Às 18h, a central divulga o relatório final de sua Comissão Nacional da Memória, Verdade e Justiça. O congresso da CUT vai até sexta-feira (16), quando haverá a posse da nova direção.



 

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