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Líder metalúrgico do Rio diz que ajuste fiscal pode comprometer a indústria naval

Jesus Cardoso, presidente do sindicato, diz que a Operação Lava Jato tem provocado uma grande crise no setor naval, paralisando os investimentos da Petrobras

Divulgação

Jesus Cardoso: “Projeto neoliberal de FHC praticamente enterrou a indústria naval brasileira”

Conexão Jornalismo – Jesus Cardoso é metalúrgico do setor naval e funcionário do estaleiro Rio Nave. Tem uma trajetória de luta em defesa da categoria, se destacando como liderança operária. No final de abril deste ano foi eleito para a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, com a responsabilidade de lutar ainda mais neste momento de crise econômica.

Qual a posição do Sindicato dos Metalúrgicos sobre o sucateamento da indústria naval?

O pior sucateamento da indústria naval brasileira aconteceu no período FHC. Durante os anos 90, o segmento praticamente fechou as portas e desempregou milhares de trabalhadores. Foi a partir de 2003, com a eleição de Lula, que surgiram novas perspectivas, com a decisão do governo federal de reativar a construção naval. Em 2000, a indústria do petróleo representava cerca de 2% do PIB, e hoje chega a 12%, o que mostra a importância dessa indústria para o desenvolvimento do país e a geração de emprego.

Esse novo momento da indústria naval brasileira se deve, principalmente, ao Programa de Valorização e Expansão da Frota (Promef), do governo federal, que através das encomendas reaqueceu o setor. Essa reativação também se deve ao compromisso do então presidente Lula de garantir o conteúdo nacional nas novas encomendas.

Infelizmente, a Operação Lava Jato tem provocado uma grande crise no setor naval, paralisando os investimentos da Petrobras. Os trabalhadores esperam, sim, que os corruptos sejam julgados e condenados. Porém, não se pode paralisar toda uma cadeia produtiva que é gerada a partir das encomendas da estatal. Queremos os estaleiros em pleno funcionamento, com muitas obras e gerando empregos para milhares de trabalhadores.

O que representa o ajuste fiscal para o desenvolvimento da indústria naval?

É intolerável um ajuste fiscal que atinge apenas os trabalhadores, sem mexer com as grandes fortunas, heranças e os juros altos que propicia recordes nos lucros dos bancos. O governo, assim como a Petrobras, não pode se dobrar a pressões espúrias, sob pena de vitimar ainda mais a classe trabalhadora. A queda dos investimentos do setor naval, principalmente com a diminuição dos investimentos da Petrobras, prejudica o desenvolvimento da nossa indústria.

Quais são os interesses da oposição sobre a Petrobras e as empresas que promovem a soberania nacional?

Esses ataques ao governo Dilma – legitimamente eleito pela população – são na verdade uma tentativa de voltar com o projeto neoliberal de privatizar nossas empresas estratégicas, como a petrolífera. Não é por acaso que o senador José Serra (PSDB) apresentou um projeto que pretendia retirar da Petrobras o pré-sal. Esse projeto tucano abre caminho para que as multinacionais se apropriem dessa riqueza, como o senador prometeu aos executivos da Chevron em 2009.

Felizmente, com a força do movimento sindical, esse projeto foi até o momento barrado. Além disso, os tucanos mantêm três projetos no congresso para alterar a lei de partilha, o que coloca em xeque o controle nacional da nossa reserva de petróleo.

Qual a diferença entre os governos Lula/Dilma e governo FHC para indústria naval?

O projeto neoliberal de FHC praticamente enterrou a indústria naval brasileira, que já foi uma das mais importantes do mundo. Os estaleiros estavam fechados e os que ainda resistiam empregavam menos de 2 mil trabalhadores. O presidente Lula retomou o setor naval, principalmente com a garantia do conteúdo nacional. Entretanto, essa medida está em risco, com a ida de obras da Petrobras para outros países. A nossa luta agora é para que a presidenta Dilma não aceite isso e retome a construção naval no Brasil. Queremos que o conteúdo local seja respeitado em nosso país para construirmos uma indústria forte e competitiva ao ponto de gerar muitos empregos e distribuir renda para os trabalhadores.

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