Bradesco e HSBC

Cinco maiores bancos do país controlam 86% dos ativos; em 1995, eram 56%

'Nenhum processo de venda pode causar prejuízo à sociedade', diz presidenta do Sindicato dos Bancários. Para vice-prefeita de Curitiba, solução financeira para o HSBC não pode se descolar da social

Barry Caruth/Wikimédia Communs

HSBC anunciou hoje (3) a venda das operações de sua subsidiária no Brasil para o Bradesco por R$ 17,6 bilhões

São Paulo – A direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo solicitou reunião com a direção do Bradesco, com objetivo de discutir a situação dos empregos do HSBC. A presidenta da entidade, Juvandia Moreira, afirma que a aquisição do HSBC pelo Bradesco, confirmada hoje (3), é preocupante. “É com os trabalhadores e os milhões de clientes que o banco precisa se comprometer. Nenhum processo de venda pode causar prejuízo à sociedade brasileira.”

O HSBC confirmou hoje (3) a venda das operações de sua subsidiária no Brasil para o Bradesco por US$ 5,2 bilhões (R$ 17,6 bilhões). O movimento sindical já vinha convocando bancários e recolhendo assinaturas para uma campanha para evitar as demissões. O dirigente sindical Luciano Ramos, funcionário do banco, diz que a campanha é importante para buscar o apoio da população para se posicionar ao lado dos trabalhadores, como aconteceu em outras negociações entre corporações bancárias.

“Encaminharemos as assinaturas ao Congresso Nacional, ao governo federal e aos órgãos reguladores do sistema financeiro nacional. Vamos deixar claro a todos que em nosso emprego ninguém mexe, independentemente de quem venha a comprar o HSBC”, ressalta Luciano.

Concentração bancária

As operações bancárias do país ficarão ainda mais concentradas com a aquisição do HSBC pelo Bradesco. Atualmente, os cinco maiores bancos do país (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Federal e Santander) respondem por 80% de todos os ativos do sistema financeiro nacional. Com o negócio, passam a controlar 83%. Em 1995, os cinco maiores possuíam 56% dos ativos.

O levantamento foi feito pela subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários, com base em dados do Banco Central. Ainda segundo o Dieese, o controle das operações de crédito cresce de 84% para 86%; o total dos depósitos à vista sobe cinco pontos, de 87% para 92%, acumulado em cinco instituições financeiras. Esses cinco bancos passam a concentrar 96% dos depósitos em poupança (um ponto percentual a mais) e 91% das agências de todo o país, ante 87% antes da venda do HSBC.

A concentração bancária é um dos fatores de influência do sistema financeiro internacional nas economias dos países.

Há uma mês, representantes sindicais já haviam se reunido com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade, ligado ao Ministério da Justiça). O presidente do órgão, Vinícius Marques de Carvalho, recebeu parlamentares e representantes da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do HSBC, em Brasília.

“Vamos analisar a fusão do HSBC. Iremos fazer com que o banco cumpra suas responsabilidades para sair do mercado brasileiro. O principal fiscalizador desse processo é o Banco Central, mas nós também vamos analisar a fundo todo o processo” afirmou Marques. De acordo com decisão do STF, cabe ao Banco Central atuar como ente regulatório setorial em casos de fusões de bancos e o Cade atua como autoridade antitruste.

A vice-prefeita de Curitiba e secretária municipal do Trabalho, Mirian Gonçalves, alerta que o mercado de trabalho pode sofrer forte impacto na região, onde a presença do HSBC é a maior do país. O HSBC tem atividades em 853 agências espalhadas por 531 municípios do país totalizando cerca de 21 mil trabalhadores diretos. Cerca de 12 mil estão no Paraná. “A capital paranaense não teria como absorver a mão de obra de cerca de 8 mil trabalhadores, com uma média salarial de R$ 5 mil. O banco disse que pagou a conta financeira. Queremos saber quem pagará essa conta social”, disse Mirian, durante a reunião no Cade.

Com informações do Sindicato dos Bancários de São Paulo


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