Saúde pública

Em assembleia, médicos residentes do Hospital São Paulo decidem encerrar greve

Apesar do fim da paralisação, atendimento à população continua prejudicado devido a serviços suspensos bem antes do início do movimento; médicos continuarão pressionando conselho gestor

Aquivo/Universidade Federal de São Paulo

Além do atendimento em pronto-socorro, o Hospital São Paulo é referência em serviços especializados e cirurgias

São Paulo – Em assembleia na tarde de hoje (3), os médicos residentes do Hospital São Paulo decidiram encerrar a greve iniciada no último dia 23. De acordo com o presidente da Associação de Médicos Residentes do Estado de São Paulo Diego Garcia, as reivindicações ainda não foram atendidas, mas um conjunto de compromissos assumidos pelo conselho gestor do hospital influenciou na decisão. “A greve foi suspensa, mas continuaremos firmes nas cobranças para garantir um atendimento digno e eficiente à população”, disse Garcia.

Entre os compromissos assumidos pelo conselho gestor estão o conserto de dois tomógrafos e de dois aparelhos de ressonância magnética, além da aprovação da manutenção do equipamento de radioterapia. Há ainda a promessa de conserto de outros equipamentos com recursos que virão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação, e da aplicação da verba de R$ 3 milhões vindas do governo estadual na compra de medicamentos e materiais.

Há ainda o compromisso do conselho de incluir representação dos residentes em reuniões com pautas específicas – o que já consta do regimento.

Sem reivindicações para elevação no valor das bolsas pagas durante a residência médica, o movimento reclama melhorias das condições básicas de atendimento à população. De acordo com Garcia, faltam remédios e os equipamentos de diagnóstico por imagem, como de raios X, não funcionam adequadamente.

“Era importante denunciar isso à sociedade. Maior hospital universitário do país, o HSP deveria ser um modelo de gestão e atendimento. Não podíamos mais conviver com aquele quadro como se nada estivesse acontecendo. A população não pode olhar o HSP de fora e achar que as coisas lá dentro estão funcionando bem e só notar que a situação é calamitosa quando precisar do hospital. Isso é uma traição com quem conta com a instituição. Tínhamos obrigação de alertar sobre isso”, diz Diego.

Vinculado à Universidade Federal de São Paulo, a  gestão do HSP é feita por um conselho do qual fazem parte diretores da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).

São aproximadamente 1.200 residentes, que atendem a 6 milhões de pessoas por ano. Segundo Garcia, somente no primeiro trimestre de 2015, houve um incremento de 125% no número de atendimentos do pronto-socorro e clínica médica, enquanto o repasse de recursos do governo federal, responsável por quase metade do financiamento da instituição, foi reduzido em 40%.

O dirigente rebateu informações divulgadas pelo Ministério da Saúde sobre um aporte adicional de R$ 100 milhões. De acordo com ele, o valor corresponde a verbas que já deveria ter sido pagas em abril. “Portanto, estão chegando com atraso de dois meses.”

“É difícil fazer as contas fecharem. Também precisamos de mais transparência sobre os recursos financeiros recebidos e sua utilização. E antecipação na identificação e solução de problemas. Temos muito trabalho pela frente. Nossa atuação no movimento pela melhoria da estrutura do hospital para atendimento aos pacientes não vai se limitar à greve e não acaba com suspensão ou finalização da greve. Não podemos ser cúmplices do que claramente está errado. Até porque são os residentes que ficam cara a cara com o paciente quando a situação fica difícil, quando falta remédio ou quando um procedimento não pode ser realizado”, disse Garcia.

O fim da paralisação, no entanto, não significa o restabelecimento do pleno atendimento. “O atendimento ambulatorial e suspensão de procedimentos e cirurgias eletivas já vinham prejudicados antes mesmo do início da greve justamente pelas razões que a ela levaram.”

A greve contou com apoio da população da região e de alguns pacientes do Hospital São Paulo – foram colhidas cerca de 3 mil assinaturas em abaixo-assinado em solidariedade ao movimento.

Conforme Diego Garcia, a pressão não acaba com a greve. Em substituição ao comando de greve, será constituído grupo de trabalho que acompanhará as providências do conselho gestor.

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