dia do trabalho

Presidente da CUT anuncia frente de esquerda; centrais atacam Cunha

Em referência à agenda conservadora, Vagner Freitas disse no ato do Anhangabaú: 'Aqui se organiza a resistência'. Sindicalistas preparam protestos pelo país para o dia 29 e falam em greve geral

Segundo organizadores, ato reúne no início da tarde 50 mil pessoas <span>(danilo ramos)</span>Trabalhadores lotaram o Vale do Anhangabaú para ato unificado das centrais e movimentos populares <span>(danilo ramos/rba)</span>Ato unificado de centrais e movimentos sociais reuniu cerca de 50 mil no Vale do Anhangabaú <span>(danilo ramos)</span>Vagner Freitas, presidente da CUT, colocou em votação proposta de realização de marcha a Brasília e de greve geral <span>(danilo ramos)</span>Combate ao PL 4.330 e às MPs 664 e 665 são bandeira de luta dos movimentos <span>(danilo ramos)</span> <span></span>

São Paulo – O projeto da terceirização e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foram alvos preferenciais do ato de 1º de Maio organizado pela CUT, CTB, Intersindical e movimentos populares no Vale do Anhangabaú, região central de São Paulo. Mas a chamada agenda conservadora, identificada pelas centrais, também foi citada pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, que durante o ato anunciou o lançamento de uma “frente nacional de esquerda, unificada”. “Aqui se organiza a resistência”, afirmou.

Os dirigentes das centrais sindicais anunciaram um dia nacional de paralisações e protestos pelo país daqui a quatro semanas, no próximo dia 29, contra o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização. E admitem a realização de uma greve geral caso o Senado aprove a proposta, que acaba de passar pela Câmara dos Deputados. Freitas falou ainda sobre a possibilidade de uma marcha com 100 mil pessoas no dia da votação do PL no Senado. Segundo ele, o ato de hoje foi “uma manifestação de repúdio”, um protesto “pelos direitos e contra a direita”.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi várias vezes citado pelos sindicalistas. Bem diante do palco, manifestantes levaram um caixão com réplicas de carteiras do trabalho e fotografias do parlamentar, identificado com o andamento mais acelerado de propostas conservadoras.

“A direita começou a colocar sua pauta no Congresso Nacional”, comentou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), citando o PL 4.330 e a aprovação da admissibilidade da proposta de redução da maioridade penal. “Nesses dois temas, houve uma reação muito importante da sociedade. Já há uma situação muito melhor no Senado.” Para o parlamentar, está em andamento uma “reorganização de forças” no Congresso e é necessário evitar que o centro político se junte à ala conservadora. “É preciso resistir à agenda do Eduardo Cunha.”

Freitas, da CUT, reafirmou que se os senadores aprovarem o projeto, como fizeram os deputados no último dia 22, a mobilização será pelo veto da presidenta Dilma Rousseff. Antes disso, haverá o dia nacional de paralisações. “Vamos construir uma greve geral para ela vetar o projeto. Não é contra governo, mas contra a retirada de direitos.” O dirigente classificou o PL como “uma ousadia da direita, que nem a ditadura conseguiu fazer”. E acrescentou que, mesmo perdendo, os conservadores tentam “empurrar” sua agenda.

Já o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, considera o PL 4.330 o maior ataque já feito ao conjunto dos trabalhadores, não apenas os sindicalizados, mas os mais precarizados. Ele lembrou que o movimento também é contra as medidas provisórias 664 e 665 (sobre benefícios previdenciários e trabalhistas). E acrescentou que o ajuste fiscal promovido pela equipe econômica do governo corta investimentos. “O Minha Casa, Minha Vida 3 não foi lançado até agora por causa do ajuste.”

Boulos considerou o ato de hoje também um desagravo aos professores estaduais do Paraná, que foram agredidos pela Polícia Militar na quinta-feira (29). “O governador Beto Richa (PSDB) não tem mais condições de permanecer à frente do governo do Paraná depois do que fez com os professores.”

A presidenta de Apeoesp (sindicato dos professores da rede pública estadual paulista), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, lembrou que a greve da categoria completou 50 dias hoje. “Não vai faltar fôlego para nós. Nossa greve continua até que esse governador autoritário, truculento, abra negociação”, afirmou.

Integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),  Gilmar Mauro avalia que este é momento de organizar a defesa contra o conservadorismo. “Precisamos resistir e preparar o contra-ataque. Hoje só temos uma alternativa, que é a rua. Há um ódio muito grande de classes sendo destilado. Temos de responder com ação e politização.”

Segundo ele, o governo cometeu “um erro gravíssimo” ao editar as MPs 664 e 665, no final de 2014, sem conversar com os movimentos sociais. “Nos dedicamos ao máximo para reeleger a Dilma. País nenhum no mundo se recuperou do ponto de vista econômico fazendo ajuste fiscal.”

Gilmar Mauro apontou outros desafios. “A burguesia nos lembra todos os dias que existe luta de classes. Os meios de comunicação buscam formar consensos na sociedade: a ideia da redução da maioridade penal, do impeachment, do estigma dos movimentos sociais, para implementar um receituário que perdeu nas eleições”, afirmou.

O dirigente do MST acredita que houve certa retração dos movimentos pela derrubada da presidenta Dilma porque esses setores sabem que haverá resistência “do outro lado”. Mas prevê dificuldades para o governo. “Não tenho nenhuma dúvida de que a faca no pescoço do governo vai até o fim do mandato. Não dá para baixar a guarda.”

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