montadora chinesa

Com proposta, trabalhadores da Chery decidem amanhã se encerram greve

Depois de 31 dias de paralisação na fábrica de Jacareí (SP), empresa concorda, em audiência no TRT, em acatar cláusulas de convenção coletiva e conceder reajuste de piso em 54%, entre outros pontos

Reinaldo Marques

Trabalhadores mobilizados: luta para que empresa entre nos padrões do país e cumpra convenção coletiva do setor

São Paulo – Os trabalhadores da montadora chinesa Chery realizam assembleia amanhã (7), às 9h, na sede de Jacareí do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, no interior paulista, para decidir se encerram greve que já dura 31 dias. A empresa tem 470 funcionários. Hoje (6), na terceira rodada de negociação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região, de Campinas, sindicato e empresa chegaram a uma proposta para submeter aos grevistas.

A montadora concordou em acatar cerca de 50 cláusulas de convenção coletiva já praticada na região pela General Motors e pelo Sindicato Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Sinfavea). Entre essas cláusulas, está estabilidade no emprego para os trabalhadores portadores de doenças ocupacionais – este era um dos pontos que sofriam maior resistência por parte da montadora.

A Chery também concordou em reajustar o piso de R$ 1.199 para R$ 1.850 (retroativo a 1º de abril)  e estender o convênio médico para os familiares dos trabalhadores (a empresa pagará 35% do valor). Haverá redução gradual da jornada de trabalho de 44 horas para 42 horas semanais, mudança da data-base para setembro, fim da cobrança das refeições e estabilidade de 90 dias para todos os funcionários.

Segundo Guirá Borba Guimarães, diretor do sindicato eleito para a nova gestão, que toma posse na sexta-feira (8), a redução de jornada seguirá o seguinte calendário: meia hora será reduzida imediatamente, mais meia hora em abril de 2016 e uma hora em abril de 2017. Além disso, empresa e sindicato darão início às discussões sobre pontos em que ainda não há acordo, como plano de cargos e salários (PCS) e fim da terceirização irregular na fábrica. Guimarães afirma que a terceirização ocorre no setor de manuseio de peças, e que isso não pode ser feito sem a concordância do sindicato. Dos mais de 30 dias de paralisação, os trabalhadores terão de compensar apenas quatro, durante quatro meses, trabalhando um sábado por mês.

A greve dos metalúrgicos da Chery começou em 6 de abril, para pressionar a empresa a acatar as normas coletivas de trabalho do setor automobilístico. Foi uma das paralisações mais longas da região nos últimos 20 anos. Indagado quanto à longa duração da greve, Guimarães afirma que “a empresa foi às últimas consequências para burlar os direitos dos trabalhadores”, mas isso ocorreu principalmente porque a operação da montadora estava fora dos padrões brasileiros em termos de salários e benefícios. “Por isso, nossa pauta é bastante longa”, afirmou.

“A greve partiu da reivindicação do salário, que estava muito defasado, mas no transcorrer do movimento os próprios trabalhadores criaram consciência da necessidade de garantir seus direitos”, afirma Guimarães, destacando que as questões de ergonomia e segurança ainda são pontos que precisarão ser melhorados na fábrica.

Os itens em que não houve acordo irão para julgamento no TRT, em data ainda não definida. A empresa não concordou, por exemplo, em estender o reajuste do piso para todas as faixas salariais, inclusive administrativo. A empresa propõe apenas 15% de reajuste, enquanto o piso será reajustado em 54%. Do quadro total de funcionários da Chery, 70% recebem o piso.

A fábrica de Jacareí, inaugurada em outubro de 2014 e com produção para venda desde fevereiro deste ano, tem 470 trabalhadores e produz o carro Celer. Neste período de paralisação, cerca de 500 veículos deixaram de ser produzidos.


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